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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 953<br />

Terminou Bernardino sua proposta, que eu ouvi atento por<br />

demonstração <strong>da</strong> cortesia; porém como ensina Demóstenes 961 , não só se ha­<br />

de atender às palavras de quem fala, porém às utili<strong>da</strong>des ou <strong>da</strong>nos que <strong>da</strong>í<br />

resultar podem, a que o desejo muitas vezes não discursa, e assim lhe<br />

respondi:<br />

- É, senhor Bernardino, o assunto de que tratais por muitas causas a<br />

meu talento improporciona<strong>do</strong> e a vós nocivo, como mostrarei. A mi digo<br />

impróprio porque estes senhores confiaram de mi o magistério e educação de<br />

seus filhos, mas não o intervir eu em seus casamentos, para o que não me<br />

concederam licença, nem me é permiti<strong>do</strong> falar, que seria exceder eu a<br />

facul<strong>da</strong>de que me é concedi<strong>da</strong>. O consultar e tratar <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de seus filhos,<br />

empenho é só <strong>do</strong>s pais, e sen<strong>do</strong> Fenisa seu singular desvelo, lisonja de seu<br />

amor e cui<strong>da</strong><strong>do</strong>so centro de suas memórias. É ela tão altiva na presunção e tão<br />

senhoril nos pensamentos que ain<strong>da</strong> <strong>da</strong> mesma eleição de seus pais parece<br />

não se <strong>da</strong>ria por satisfeita, quan<strong>do</strong> o eminente de seu merecimento de na<strong>da</strong> se<br />

satisfaz. Tem o culminante <strong>da</strong> fermosura o sólio em seu próprio pensamento:<br />

tu<strong>do</strong> abaixo desta esfera julga por sublunar, que não se atreve a presumir voo<br />

o atrevi<strong>do</strong> ao eminente de sua estimação.<br />

Bem se viu esta ver<strong>da</strong>de em desprezar os oferecimentos de Raimun<strong>do</strong><br />

para ser seu esposo, fazen<strong>do</strong> com seus pais que logo para Bolonha se<br />

mu<strong>da</strong>ssem; e quan<strong>do</strong> um filho de um potenta<strong>do</strong> tão sublime não achou na<br />

altiveza de Fenisa aceitação, como se podia presumir que se <strong>da</strong>ria por<br />

satisfeita <strong>do</strong> casamento de um vassalo que a seu serviço assiste? Intolerável<br />

de sofrer, disse Juvenal 962 de uma esposa rica e poderosa; pois que será<br />

sen<strong>do</strong> rica, poderosa, mui fermosa e muito altiva? Presume a mulher<br />

superiori<strong>da</strong>des quan<strong>do</strong> se vê igual, pois como não presumirá exceder em tu<strong>do</strong><br />

a que por tantos títulos se imagina superior?<br />

É Fenisa muito ilustre, muito rica, muito moça, muito fermosa e muito<br />

discreta; e com tantos muitos que a lisonjeiam mal se pagariam seus<br />

pensamentos menos que de um titular poderoso que para esposa a pedisse; se<br />

ain<strong>da</strong> assim por satisfeita se desse, <strong>do</strong> que ain<strong>da</strong> posso duvi<strong>da</strong>r, consideran<strong>do</strong><br />

Demosth., in Olynth.<br />

Juven., Satyr. 6.

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