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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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472 Padre Mateus Ribeiro<br />

acostumar os filhos ao que depois haviam de exercitar, para que o não<br />

estranhassem; e Plutarco 457 escreve que com o costume se suavizam ain<strong>da</strong> as<br />

cousas que de sua própria natureza são ásperas e desabri<strong>da</strong>s.<br />

Com a alegria desta vitória começámos a querer entrar no golfo de<br />

Veneza, sen<strong>do</strong> o tempo alegre e bonançoso; mas como nas navegações se<br />

experimenta sempre a maior varie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> fortuna, de repente se nos mu<strong>do</strong>u o<br />

vento em contrário, perturban<strong>do</strong> de sorte os mares com tão rigorosa tormenta<br />

que o menos era impedir-nos a jorna<strong>da</strong>, se não fora o mais ameaçar-nos as<br />

vi<strong>da</strong>s.<br />

Resistiu aos luzi<strong>do</strong>s privilégios <strong>do</strong> dia o escuro véu <strong>da</strong>s densas nuvens<br />

de que se cobriu o sol ao meio-dia. Converteram-se em trevas seus<br />

resplan<strong>do</strong>res, em sombra a luz, em confusão a alegria; bramavam os ventos de<br />

furiosos, gemiam os mastos (a) de combati<strong>do</strong>s, rasgavam-se as velas de<br />

assalta<strong>da</strong>s, e a nau, sen<strong>do</strong> por nascimento filha <strong>do</strong> bosque mais sombrio, com<br />

os balanços se queixava de quem a desterrou sem culpas de seu <strong>do</strong>micílio,<br />

para vir a ser ludíbrio <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s quem era lisonja <strong>do</strong> pra<strong>do</strong> e digni<strong>da</strong>de <strong>do</strong><br />

bosque. Queixara-se, se tivera voz, de quanto mais seguras lhes vinham as<br />

verdes ramas de que a vestiu a natureza <strong>do</strong> que as arrisca<strong>da</strong>s velas de que a<br />

armou a ambição; pois poden<strong>do</strong> viver com o útil <strong>da</strong>s raízes, a obrigaram a<br />

sustentar-se com o inconstante <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s, queren<strong>do</strong> que voasse com asas<br />

contrafeitas quan<strong>do</strong> aspirava a não mover-se com os pés naturais.<br />

Creciam de sorte os mares em competência <strong>do</strong>s ventos que temiam os<br />

penhascos e roche<strong>do</strong>s <strong>da</strong> costa virem a ser colónias <strong>do</strong> mar e ficarem ilhas<br />

pelos assaltos <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s, sen<strong>do</strong> de antes terrestres mora<strong>do</strong>res pelos foros <strong>do</strong><br />

nascimento. Os troncos mais valentes desconfiavam <strong>da</strong>s raízes poderem<br />

sustentar <strong>do</strong> peso de seus ramos, porque <strong>da</strong> violência de tão poderosos<br />

contrários nem as raízes se isentam por escondi<strong>da</strong>s, nem os ramos se<br />

asseguram por vistosos, e tão vizinho está o perigo no que se esconde como<br />

no que se manifesta. Desmaiava o leme a governar; mas que maravilha, se<br />

faltava o coração a quem o governa, que como desmaiavam os alentos com<br />

tanta hostili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> mar, que discurso podia ter quem se via quasi sumergi<strong>do</strong><br />

Plut., De utilitat. cap. Ab. inim.<br />

Forma que coexistia com mastro.

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