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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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248 Padre Mateus Ribeiro<br />

mas para mostrar que se as galés que o seguem não puderem junto acometê-<br />

lo, uma só, e ain<strong>da</strong> duas, parece empresa arrisca<strong>da</strong>.<br />

- Nas batalhas e conflitos militares (respondi eu) mal pode haver<br />

segurança <strong>do</strong>s perigos. Bem sei eu, disse Lactâncio, que ninguém mais<br />

obstina<strong>da</strong>mente e com mais intrépi<strong>do</strong> valor peleija que o que a pelejar<br />

violentamente é constrangi<strong>do</strong>. Mas nem por isso se há-de deixar de emprender<br />

o conflito <strong>da</strong> guerra quan<strong>do</strong> a causa o pede. O provocar e desafiar a batalha,<br />

disse Vegécio 294 , que era mais feliz que o ser provoca<strong>do</strong> à conten<strong>da</strong>: e a razão<br />

deve de ser, por pressupor, que o que à batalha provoca leva <strong>da</strong> sua parte a<br />

justiça; porque se assim não fora, nem o saltea<strong>do</strong>r se prendera, nem o<br />

homici<strong>da</strong> se castigara, nem o facinoroso se punira, nem o pirata se afugentara;<br />

e padecera a república o detrimento de tantas insolências, se por se considerar<br />

que os delinquentes hão-de resistir obstina<strong>da</strong>mente, a quem para o castigo os<br />

busca quan<strong>do</strong> fogem, se lhes houvesse de permitir a fugi<strong>da</strong> com temor <strong>do</strong>s<br />

arrojos <strong>da</strong> desesperação. Vitórias não se alcançam sem sangue, triunfos não<br />

se conseguem sem perigos, fama não se adquire sem riscos e honra não se<br />

ganha sem trabalhos. Não fui eu tão venturoso que pudesse nesta ocasião de<br />

tanto sentimento meu e de tanta pena acompanhar a meu pai nesta jorna<strong>da</strong>,<br />

que eu fora o primeiro que me arrojara aos perigos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, sem temer riscos<br />

<strong>da</strong> morte, a troco de livrar minha irmã Lucin<strong>da</strong> e tomar a mereci<strong>da</strong> vingança de<br />

um agravo tão execrável como o temerário Juliano cometeu contra a casa de<br />

meus pais e decoroso respeito que a Lucin<strong>da</strong> se devia. Mas vejo meus pesares<br />

tão sem alívio que de to<strong>da</strong>s as partes de fecharam as portas ao remédio. Minha<br />

irmã desapareci<strong>da</strong>, meu pai ausente, minha mãe em contínuas lágrimas sem<br />

consolação, eu sem liber<strong>da</strong>de, nem poderoso para procurar-lhe o alívio, nem<br />

capaz para emprender o remédio.<br />

Assim estávamos com estes e outros discursos semelhantes os três<br />

prisioneiros, entreten<strong>do</strong> a moléstia por divertir os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s uma manhã, quan<strong>do</strong><br />

chegou um pajem de Anastácia a <strong>da</strong>r um escrito a Alexandre, que em o len<strong>do</strong>,<br />

mu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> de repente as cores com o susto <strong>da</strong> nova, mostrou no sobressalto o<br />

desalento que sentia. Mal se dissimulam paixões <strong>da</strong> alma, pois por mais que a<br />

prudência ou valor intentem disfarçá-las, o coração com os golpes, os senti<strong>do</strong>s<br />

Vegec, Lib. 1.

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