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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 349<br />

obrigaria a ele a se empenhar em alcançá-la. Sen<strong>do</strong> isto assim, que motivos<br />

tem aqui o agravo para vingança? Pertencíeis ou sentir como mínimo, ou<br />

vingar-vos como tirano? E que sabeis vós se Laura vos não convinha? Porque<br />

se de outro estava afeiçoa<strong>da</strong>, era arrisca<strong>da</strong> para esposa. Se a vós vos<br />

aborrecia, penosa para mulher. Porque entrar aborrecen<strong>do</strong> é fechar as portas<br />

ao amor.<br />

Porventura cifrou-se em Laura a beleza? Compendiou-se a discrição?<br />

Terminou-se o gracioso? Finalizou-se o agradável? Não, por certo, suposto que<br />

a vós assim pareça. Porque é o mun<strong>do</strong> tão grande que o que em um lugar nos<br />

parece singular, discorren<strong>do</strong> por outros já nos aparece comum. Fermosuras<br />

tem Itália que podem igualar a to<strong>da</strong> a fermosura, belezas tem França,<br />

gentilezas tem Espanha que podem ser assombros <strong>do</strong> parecer. Se houve em<br />

Pérsia Campaspe que fez desmaiar os pincéis de Apeles para retratá-la,<br />

também houve uma Cleópatra em Egipto, uma Zonóbia no Oriente, uma<br />

Sofonisba em África, uma Florin<strong>da</strong> em Espanha, e outras muitas que puseram<br />

em competência a alma <strong>da</strong> fermosura. Nem a natureza se mostrou convosco<br />

tão avara, nem a fortuna tão rigorosa, que pelo ilustre <strong>do</strong> sangue, pelo flori<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> i<strong>da</strong>de e pelo rico <strong>do</strong> património vos não habilitassem para os melhores<br />

empregos. Como logo quereis desacreditar o que mereceis com intentar<br />

vinganças <strong>do</strong> que não alcançais? Que perdestes que não possais cobrar ain<strong>da</strong><br />

com melhoras? Uma esposa que não soube estimar-vos! Haverá muitas que<br />

vos estimem. Seria avilitar o generoso <strong>do</strong>s brios e desluzir os méritos de vosso<br />

sujeito intentar tal, com pordes em risco a vossa pessoa e esta<strong>do</strong>, e arriscar a<br />

vossos parentes sem haver causa de justo agravo, solicitar vinganças de<br />

ofendi<strong>do</strong>. Laura não nasceu para ser vossa, pois já tem esposo, tu<strong>do</strong> o que<br />

outro lograr tem já menos estimação; não vos incitem memórias <strong>do</strong> que<br />

imaginais que perdestes, que em breve tempo nem de Laura haveis de ter<br />

memórias. Porque, como bem disse Demóstenes, são tais <strong>do</strong> tempo os<br />

poderes que <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des faz campos e <strong>do</strong>s campos, povoações; <strong>do</strong>s inimigos,<br />

amigos e <strong>do</strong>s amigos, contrários; <strong>da</strong>s eminências, ruínas; <strong>do</strong> estima<strong>do</strong>,<br />

abatimento; <strong>do</strong> agradável, molesto e <strong>do</strong> lembra<strong>do</strong>, esqueci<strong>do</strong>.<br />

To<strong>do</strong>s louvaram e aprovaram por prudente e acerta<strong>do</strong> o parecer que deu<br />

Timóteo Savello, que assim se chamava este fi<strong>da</strong>lgo ancião, e ain<strong>da</strong> o mesmo<br />

Carlos se sujeitou a ele, pois já alivia<strong>do</strong> <strong>da</strong> tristeza e consola<strong>do</strong> <strong>da</strong> mágoa se

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