17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

828 Padre Mateus Ribeiro<br />

tão poderoso; que haven<strong>do</strong> vós de <strong>da</strong>r esta<strong>do</strong> a essa senhora por eleição, não<br />

podereis escolher acerto melhor <strong>do</strong> que lhe adquiriu a ventura.<br />

Se ele por esposa a pretende, não é justo que intervenham as armas,<br />

quan<strong>do</strong> sem elas podem ter satisfação decorosa as ofensas. Vós e Feliciano<br />

sois as duas principais pessoas de Cesena, em quem tem a ci<strong>da</strong>de postos os<br />

olhos, ou para dizer melhor, ambos sois os <strong>do</strong>us olhos de Cesena, e nunca<br />

convinha que qualquer de vós se expusesse a perigo de ficar morto. Lembra-<br />

me que reduzi<strong>da</strong> Atenas a miserável esta<strong>do</strong> pelos lacedemónios, e outras<br />

repúblicas poderosas de Grécia que com eles tinham feito liga a ficarem ao<br />

arbítrio <strong>do</strong>s vence<strong>do</strong>res, e tratan<strong>do</strong>-se em conselho se se havia de destruir de<br />

to<strong>do</strong> a ci<strong>da</strong>de de Atenas, os mais <strong>do</strong>s alia<strong>do</strong>s eram de parecer que de to<strong>do</strong> se<br />

arruinasse; porém os lacedemónios, que eram na vitória os principais, não<br />

quiseram que se destruísse, dizen<strong>do</strong>, como refere Paulo Orósio 751 , que não<br />

queriam consentir, nem era justo que de <strong>do</strong>us olhos que Grécia tinha, quais<br />

eram a ci<strong>da</strong>de de Atenas e a de Esparta, um deles totalmente se extinguisse, e<br />

que poden<strong>do</strong> o tempo ocasionar que Esparta viesse a faltar, ficasse Grécia às<br />

escuras e sem nome. Assi, senhor Lisar<strong>do</strong>, aventurar os <strong>do</strong>us olhos de Cesena<br />

ao conflito <strong>da</strong>s armas com evidente risco, quan<strong>do</strong> o crédito pode sem isso<br />

restaurar-se, seria desacerta<strong>do</strong> conselho <strong>da</strong> paixão e não <strong>da</strong> prudência<br />

emprender litígios, quan<strong>do</strong> sem eles se está oferecen<strong>do</strong> a cabal satisfação.<br />

Cap. XII.<br />

Em que se prossegue o que passou no casamento de Florisela e a notícia que<br />

houve de Lívia<br />

Deu fim Roberto a seu consulta<strong>do</strong> parecer, com que fiquei persuadi<strong>do</strong> a<br />

segui-lo, como maduro no discurso em que o fun<strong>da</strong>va. Sempre nas acções<br />

alheias se ajuíza melhor <strong>do</strong> que nas próprias, por ficar o juízo mais livre <strong>da</strong>s<br />

paixões que cegam a razão e impedem o discurso. Bem se viu no arroja<strong>do</strong> que<br />

se mostrou com Lívia e no prudente que se manifestou neste sucesso de<br />

Florisela. Repliquei-lhe eu que acomo<strong>da</strong>n<strong>do</strong>-me ao seu parecer, como<br />

751 Or., 2.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!