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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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606 Padre Mateus Ribeiro<br />

as demoras, porque muitas vezes na dilação se disfarça o desacerto. Daqui<br />

veio a dizer Demétrio 545 , como refere Estobeu, que os vagares fazem sair<br />

imperfeitas as empresas. Este temor lisonjea<strong>do</strong> <strong>da</strong> esperança, ou esta<br />

esperança pensiona<strong>da</strong> <strong>do</strong> temor, <strong>do</strong>us verdugos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e <strong>do</strong>us martírios <strong>do</strong><br />

desejo, iam em mim corren<strong>do</strong> parelhas com os dias, parecen<strong>do</strong>-me um século<br />

dilata<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> dia que com meu desejo competia. O sol me parecia que tar<strong>da</strong>va<br />

em apressar ao dia e que se descui<strong>da</strong>va para chegar-se a noite. Pouco tem de<br />

sofri<strong>da</strong> uma esperança, tu<strong>do</strong> julga que corre vagaroso para seu tormento, e<br />

quan<strong>do</strong> teme perigos para desempenhar-se, alimenta-se de sustos, fazen<strong>do</strong><br />

sustento <strong>da</strong> mesma aflição em que vive. Seis dias eram passa<strong>do</strong>s deste prazo<br />

de mim tão espera<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> vieram à quinta <strong>do</strong> pai de Aurora <strong>do</strong>us tios <strong>do</strong><br />

preso Júlio Galeazzo, pessoas bem autoriza<strong>da</strong>s e poderosas em Bolonha, em<br />

companhia <strong>do</strong> <strong>do</strong>utor Claudino, insigne catedrático e eloquente ora<strong>do</strong>r, e por tal<br />

na universi<strong>da</strong>de conheci<strong>do</strong>; aos quais saiu a receber Octávio Lamberias e,<br />

subin<strong>do</strong> com eles acima, lhe pediram fizesse com a senhora Aurora que os<br />

ouvisse. Estava já em parte aplaca<strong>do</strong> <strong>do</strong>s vingativos desejos <strong>da</strong> morte de seu<br />

filho Aurélio e desejoso que Aurora consentisse neste tão pretendi<strong>do</strong><br />

casamento, para que estas opostas famílias, pon<strong>do</strong> de parte os ódios, em paz<br />

e amizade vivessem: entran<strong>do</strong> no quarto de Aurora, a obrigou a que, por não<br />

faltar à cortesia que a pessoas tão respeita<strong>da</strong>s se devia, quisesse ouvi-los, pois<br />

desde Bolonha tinham vin<strong>do</strong> só a falar-lhe. Com pouco gosto obedeceu ela aos<br />

rogos de seu pai, como quem tinha tão diferentes os intentos; mas mostran<strong>do</strong>-<br />

se respeitosa às ordens e petição de seu pai, saiu fora; e depois <strong>da</strong>s devi<strong>da</strong>s<br />

cortesias, toman<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s assento, Claudino começou a falar assim:<br />

- Bem considero, senhora, que enquanto o sentimento for mais<br />

poderoso que o discurso de vosso bom juízo, e vos oprimir mais a paixão a<br />

vontade de que a razão vos licenciar os ditames de entendi<strong>da</strong>, nem eu serei<br />

ouvi<strong>do</strong> com atenção, nem minhas palavras pondera<strong>da</strong>s com madureza, pois<br />

um coração apaixona<strong>do</strong> raras vezes admite discursos proveitosos. Lembra-me<br />

que queren<strong>do</strong> orar em Roma Cipião Africano contra o excessivo poder que os<br />

tribunos <strong>do</strong> povo adquiri<strong>do</strong> tinham, o povo lhe voltou as costas e o não quis<br />

ouvir. E queren<strong>do</strong> Catalão em outra ocasião orar no rosto <strong>da</strong> praça de Roma<br />

Demetrius.

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