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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 1039<br />

dia veres maiores incentivos <strong>da</strong> <strong>do</strong>r, e não é esta ci<strong>da</strong>de campanha para nela<br />

se apurar o sofrimento, nem fronteira em que pela aflição <strong>da</strong>s mágoas se<br />

chegue a merecer. Se Doroteia com esse novo cui<strong>da</strong><strong>do</strong> vive contente,<br />

ignorância fora o viverdes vós triste. Desapaixonai o coração, serenai o<br />

discurso, desenevoai o juízo para considerardes que quem para convosco se<br />

mostrou mudável, pouco tempo para com Hortênsio se mostrará constante. Lá<br />

disse Plutarco 1132 que quem com os parentes quebra o vínculo <strong>da</strong> amizade,<br />

mal a conservará com os estranhos; porque o amor <strong>do</strong>s parentes é natural e o<br />

<strong>do</strong>s estranhos acidente, e sempre o natural é mais forçoso que o acidental, por<br />

ser este menos firme. E eu dissera que quem por outro empenho deixou o<br />

primeiro (e vós porventura o fostes), com a mesma facili<strong>da</strong>de deixará o<br />

segun<strong>do</strong>, se tiver motivos para fazê-lo. O princípio, diz Aristóteles 1133 , leva por<br />

companhia o mais dificultoso, e quan<strong>do</strong> o mais difícil chega a vencer-se, to<strong>do</strong>s<br />

os mais se facilitam. É o primeiro empenho no amar o primogénito <strong>da</strong> vontade,<br />

o morga<strong>do</strong> <strong>do</strong>s cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s, o primeiro debuxo <strong>da</strong>s finezas; e quan<strong>do</strong> este chega<br />

a deixar-se, parece que com mais facili<strong>da</strong>de se deixará o segun<strong>do</strong>: porque o<br />

primeiro não teve imitação na mu<strong>da</strong>nça e o segun<strong>do</strong> teve exemplo no primeiro<br />

para poder seguir-se. E suposto que diz Cícero 1134 que a imitação e exemplo<br />

há-de ser <strong>do</strong> bem e não <strong>do</strong> mal, parecer que o Séneca 1135 seguiu, contu<strong>do</strong><br />

Aristóteles 1136 diz que mais facilmente se chega a imitar o mal <strong>do</strong> que a seguir-<br />

se o bem. Assim o trazem Quintiliano 1137 , Juvenal 1138 e outros muitos autores.<br />

E bem se viu em Nero, que ten<strong>do</strong> por mestre a prudência de Séneca, imitou os<br />

vícios deprava<strong>do</strong>s de companheiros flagiciosos, e em Cómo<strong>do</strong>, que <strong>da</strong><br />

prudência de seu pai Marco Aurélio, nem <strong>do</strong>s prudentes anciãos que lhe deixou<br />

por mestres, na<strong>da</strong> quis seguir e só imitou os execráveis e abomináveis<br />

costumes de mancebos perversos e turbulentos que lhe assistiram.<br />

Plut., De frat. bencu.<br />

Arist., Bene. 2.<br />

Cicer., 2. De offic.<br />

Senec, Epist. 11.<br />

Arist., Eth. 2.<br />

Quint., Decl. 2.<br />

Juven., Satyr. 14.

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