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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 377<br />

logo ficaria morta se um mancebo passageiro, acudin<strong>do</strong> ao clamor de seus<br />

bra<strong>do</strong>s, ao ingrato ofensor não tirara a vi<strong>da</strong>.<br />

Chegou nisto a justiça <strong>do</strong> lugar, trazen<strong>do</strong> o corpo morto <strong>do</strong> cruel<br />

Maurício trespassa<strong>do</strong> de estoca<strong>da</strong>s (mereci<strong>do</strong> castigo de sua impie<strong>da</strong>de), de<br />

quem to<strong>do</strong>s na<strong>da</strong> se compadeceram à vista <strong>da</strong> morte <strong>da</strong> malogra<strong>da</strong> Teo<strong>do</strong>ra,<br />

que de to<strong>do</strong>s geralmente era senti<strong>da</strong>. Com abun<strong>da</strong>ntes lágrimas <strong>do</strong> malogra<strong>do</strong><br />

Dionísio e não menos <strong>do</strong> Ermitão Felisberto se preparou honroso enterro a<br />

Teo<strong>do</strong>ra, que onde parou o desejo <strong>da</strong> vingança, renasceu a compaixão de sua<br />

acelera<strong>da</strong> morte; que não é justo que além <strong>da</strong> morte passe a memória <strong>do</strong>s<br />

agravos na vi<strong>da</strong> recebi<strong>do</strong>s, antes que com ela se sepultem, para eternamente<br />

se esquecerem. Ali, em pouco espaço de terra se escondeu muita gala <strong>da</strong><br />

beleza, grande suavi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> voz, o aplauso <strong>da</strong> discrição, o garbo <strong>da</strong> bizarria<br />

espanhola, que antigamente foram para o nosso Peregrino o encanto <strong>do</strong>s<br />

senti<strong>do</strong>s e o voluntário argel de seus amantes cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s, a quem tributou seu<br />

coração tantos desvelos de afeiçoa<strong>do</strong>, como hoje lágrimas seus olhos de<br />

enterneci<strong>do</strong>s. Este troféu arvorou a morte por mostrar que to<strong>do</strong> o luzi<strong>do</strong> e<br />

fermoso que no mun<strong>do</strong> se estima são despojos de seu golpe, são ruínas de<br />

seu valor, deixan<strong>do</strong> em sombras as que foram luzes, em luto o que foi gala e<br />

em terra o que foi flor.<br />

O enterro de Maurício correu por conta <strong>da</strong> justiça. E os <strong>do</strong>us<br />

companheiros tornan<strong>do</strong> para a ermi<strong>da</strong> em que assistiram, depois de<br />

encomen<strong>da</strong>rem a Deus as almas <strong>do</strong>s defuntos, disse o Ermitão a Dionísio:<br />

- Já de hoje em diante podeis com mais alívio de vossos desgostos<br />

empregar os pensamentos em servirdes a Deus com to<strong>do</strong> o cui<strong>da</strong><strong>do</strong>, pois<br />

vistes em que vieram a parar os que ofendi<strong>do</strong> vos tinham. Já não vos lembrem<br />

agravos, nem vos incitem vinganças, pois sem as procurardes com os olhos as<br />

vistes; que muitas vezes quan<strong>do</strong> menos no agravo se teme 373 , então chega<br />

mais depressa a satisfação.<br />

Desengana<strong>do</strong> estais como no mun<strong>do</strong> o amor é lisonja, pois se converteu<br />

em tirania; que nem soube Maurício entemecer-se às lágrimas, nem demover-<br />

se à fermosura, nem per<strong>do</strong>ar à moci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> malogra<strong>da</strong> Teo<strong>do</strong>ra, objecto hoje<br />

Ain<strong>da</strong> que a edição de 1734 registe a forma mete, julgamos preferível, atenden<strong>do</strong> ao<br />

contexto, manter a forma teme.

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