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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte I 201<br />

De Grana<strong>da</strong> prossegui meu caminho, consideran<strong>do</strong> as causas de meu<br />

tão justo sentimento à vista <strong>da</strong>s lágrima que Eugenia por seu defunto esposo,<br />

para ela tão enganoso e desumano, chorava, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> em certo mo<strong>do</strong> a Roberto<br />

título de venturoso ain<strong>da</strong> em suas próprias calami<strong>da</strong>des, pois morrera tão<br />

deveras ama<strong>do</strong> de quem se via dele com tanta causa ofendi<strong>da</strong>; e ao contrário,<br />

julgan<strong>do</strong>-me a mim por desditoso em viver certifica<strong>do</strong> de ser tão deveras<br />

ofendi<strong>do</strong> de quem tinha tantas razões para não agravar-me nem ofender-me.<br />

Lá disse Quintiliano 260 que era maior sentimento sofrer afronta e vitupério <strong>do</strong><br />

que a ofensa ou golpes por mais mortais que fossem nem a ira os causasse;<br />

porque se, como ensina Aristóteles 261 , naturalmente falan<strong>do</strong> não há pessoa no<br />

mun<strong>do</strong> que em pouco se estime ou avalie, muitos podem não sentir a ofensa,<br />

porém to<strong>do</strong>s com grande extremo sentem a afronta. Que a que os homens por<br />

seus vícios e desaforos ocasionaram os manche, não é de admirar, antes mais<br />

tolerável de sofrer, pois fica sen<strong>do</strong> castigo de suas culpas e justa pena de seus<br />

delitos; porém que pela livian<strong>da</strong>de de uma mulher desleal haja de ver-se<br />

afronta<strong>do</strong> seu mari<strong>do</strong>, mal visto <strong>do</strong> povo pela culpa a que não deu causa,<br />

infama<strong>do</strong> pelo delito em que não teve culpa, abati<strong>do</strong> pelo crime em que não foi<br />

complice, é lei injusta <strong>da</strong> política erra<strong>da</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>!<br />

- Pois, senhor, (disse então o Ermitão) se conheceis o erro, porque tanto<br />

sentis o engano? Quan<strong>do</strong> pareceres <strong>do</strong> vulgo foram acerta<strong>do</strong>s? Se o grande<br />

Agostinho 262 lhe chamou erra<strong>do</strong>s e São Gregório Papa 263 intitulou ao povo<br />

in<strong>do</strong>uto e ignorante; parecer que já antigamente tinha inculca<strong>do</strong> Platão 264 ,<br />

chaman<strong>do</strong> ao povo inábil para mestre; opinião que seguiu Plutarco 265 , dizen<strong>do</strong><br />

que era necessário desagra<strong>da</strong>r aos sábios e discretos, quem ao vulgo<br />

satisfazia e agra<strong>da</strong>va. E assim essa lei erra<strong>da</strong> ou essa ignorância certa a que o<br />

mun<strong>do</strong> intitula lei de agravos nem tem lugar com os prudentes, nem pode ser<br />

segui<strong>da</strong> <strong>do</strong>s sábios; porque assim como a honra ver<strong>da</strong>deira consiste nas obras<br />

próprias, assim a infâmia própria deve consistir nos defeitos pessoais e não<br />

260 Quintil., Declam. 13.<br />

261 Arist, Rhetor. 2.<br />

262 D. Aug., Lib. 1. De Civil Dei<br />

263 D. Greg., 16. Moral.<br />

264 Plato, in Alcib.<br />

265 Plutarc, De educand. liber.

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