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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte I 167<br />

tempo em que eu cheguei a Inglaterra ao serviço <strong>do</strong> duque de Norfolc, sen<strong>do</strong><br />

de vinte anos de i<strong>da</strong>de, se ocasionou a ruína deste senhor no mo<strong>do</strong> seguinte:<br />

Era este príncipe católico, mancebo de grande valor e mui zeloso de ver<br />

outra vez o reino de Inglaterra reduzi<strong>do</strong> ao grémio <strong>da</strong> igreja católica romana, de<br />

cuja obediência e união o tinha aparta<strong>do</strong> e desuni<strong>do</strong> a cismática rainha Isabel,<br />

que então reinava: desejo era este que tinha a maior parte <strong>da</strong>quela de antes<br />

tão próspera e observante monarquia e particularmente o povo que<br />

eficazmente sua redução afectava. Estava o ilustre duque Tomás, de que vou<br />

tratan<strong>do</strong>, afeiçoa<strong>do</strong> por extremo ao que <strong>da</strong> rara fermosura <strong>da</strong> prisioneira rainha<br />

de Escócia aplaudia a fama e desejan<strong>do</strong> afectuosamente de ser seu esposo,<br />

ou que ela fosse sabe<strong>do</strong>ra de seus intentos, como se dizia, ou que algumas<br />

circunstâncias deles ignorasse, como depois se afirmava, ele se resolveu em<br />

privar <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e reino à cismática Isabel, como indigna <strong>da</strong> coroa e ceptro que<br />

usava, sen<strong>do</strong> herege cismática e por tal declara<strong>da</strong> pelo sumo pontífice que a<br />

privava de to<strong>do</strong> o direito que ao reino ter pudesse, absolven<strong>do</strong> aos vassalos de<br />

to<strong>da</strong> a homenagem e obediência que por alguma via dever-lhe antes de tal<br />

sentença podiam; e assim tratava o duque Tomás de coroar a Maria Estuar<strong>da</strong><br />

em Inglaterra, a quem de direito o reino pertencia, e ele juntamente casan<strong>do</strong>-se<br />

com ela, tornar o reino no esta<strong>do</strong> de religião e cristan<strong>da</strong>de em que <strong>da</strong>ntes tanto<br />

florecera.<br />

Lá disse Platão 234 que o amor tu<strong>do</strong> facilitava, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> confianças ao maior<br />

atrevimento, ou seja por subornar aos senti<strong>do</strong>s, como diz Quintiliano 235 , ou por<br />

não saber afectar menos que extremos e empresas grandiosas, como escreve<br />

Propércio 236 , sen<strong>do</strong> proprie<strong>da</strong>de de quem ama muito, temer pouco. Porém o<br />

duque com ser tão amante não secegou de mo<strong>do</strong> que avaliasse a empresa que<br />

cometia por tão fácil, como o amor grande que o senhoreava representar<br />

pudera; e suposto que a empreendia como quem amava, julgava-a por<br />

dificultosa, como de discreto presumia. Mu<strong>da</strong>nças de reinos jamais custam tão<br />

baratas que permitam descui<strong>do</strong>s: mortes de príncipes nunca se executaram tão<br />

facilmente que permitam seguranças. Como amante <strong>da</strong> rainha Maria Estuar<strong>da</strong><br />

Plato, in Timeum.<br />

Quintil., Lib. 6.<br />

Propert., Lib. 2.

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