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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte IV 691<br />

cobrassem tantas forças que os <strong>da</strong>nos não tivessem reparo, nem as<br />

insolências castigo.<br />

Destas cartas teve notícia Cursieto, porque no caminho sen<strong>do</strong> toma<strong>da</strong>s<br />

e morto o porta<strong>do</strong>r que as levava, foram trazi<strong>da</strong>s a Cursieto Sambuco, que<br />

arden<strong>do</strong> em ira contra Salviano e seus tiranos avisos, que assim os intitulava,<br />

determinou <strong>da</strong>r-lhe a morte e a seus tios se fora <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de os achasse. Teve<br />

notícia por suas espias e foragi<strong>da</strong>s sentinelas que estava em Balena; assim,<br />

antes que a manhã de to<strong>do</strong> rompesse, com cinquenta ban<strong>do</strong>leiros de cavalo,<br />

bem provi<strong>do</strong>s de armas de fogo, deu em Balena; e cercan<strong>do</strong> as casas em que<br />

Salviano assistia, quebran<strong>do</strong> as portas, não teve ele mais lugar de que<br />

saltan<strong>do</strong> pelo muro de um pomar que as casas tinham, meio vesti<strong>do</strong> com o<br />

susto e corren<strong>do</strong> como quem <strong>da</strong> morte fugia, e ven<strong>do</strong> que Cursieto lhe vinha no<br />

alcance à vista, se valeu de nossa casa; achan<strong>do</strong> a porta mal cerra<strong>da</strong>, entrou<br />

e, fechan<strong>do</strong>-a, subiu apressa<strong>do</strong> nas asas de seu temor, pedin<strong>do</strong> que pelo amor<br />

de Deus lhe valêssemos, porque vinha fugin<strong>do</strong> a Cursieto Sambuco e a seus<br />

sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s, que o seguiam para tirar-lhe a vi<strong>da</strong>.<br />

Chegou Cursieto, e cercan<strong>do</strong> com sua esquadra em ro<strong>da</strong> as nossas<br />

casas, bra<strong>do</strong>u, dizen<strong>do</strong> lhe abrissem logo as portas, antes que pusessem fogo<br />

às casas com que abrasassem tu<strong>do</strong>. Era tão temi<strong>do</strong> o cruel nome de Cursieto<br />

em to<strong>da</strong> Itália que não houve em Balena porta que se não fechasse ou pessoa<br />

que ousasse aparecer à janela, nem ain<strong>da</strong> que falar se ouvisse, tão intimi<strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

ficaram to<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s assombros que a fama publicava de sua cruel<strong>da</strong>de, quanto<br />

mais ten<strong>do</strong> presente sua vista. Aumenta o temor, diz Quintiliano, as<br />

representações de to<strong>da</strong> a sevícia hostil e facinorosa; porém posso afirmar que<br />

ain<strong>da</strong> em Cursieto Sambuco se adiantavam os insultos e hostili<strong>da</strong>des à própria<br />

fama que os divulgava. Não <strong>da</strong>va jamais Cursieto quartel à pie<strong>da</strong>de; porque o<br />

tinha nele feito o cruel hábito tão insolente que parecia mais fácil achar-se nos<br />

tigres e leões a pie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> que em Cursieto a compaixão. De Ptolomeu Fiston,<br />

rei <strong>do</strong> Egipto, se conta ser tão excessivamente cruel em tirar a vi<strong>da</strong> a seus<br />

vassalos que, impacientes eles ao interminável rigor com que os tratava,<br />

despovoaram a ci<strong>da</strong>de de Alexandria, sua corte, e o deixaram solitário nela,<br />

fugin<strong>do</strong> para diversas partes, para que reinasse só nas paredes dela. Porém<br />

era tal o assombro <strong>da</strong> fama <strong>da</strong>s suas tiranias que de Cursieto Sambuco em<br />

Itália se estendia que desejavam os mora<strong>do</strong>res de muitas povoações

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