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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte III 541<br />

V; trazi<strong>do</strong> a Espanha, esteve anos prisioneiro em Madrid, e no fim se viu com<br />

sua liber<strong>da</strong>de e reino, com o livre governo de sua antiga monarquia, como<br />

antes <strong>da</strong> prisão a lograva. E não refiro muitos outros exemplos que trazer<br />

pudera, porque vós, como <strong>do</strong>uto, os tereis sabi<strong>do</strong>.<br />

Sentis, senhor, tanto a prisão de vosso pai como se fosse esta o maior<br />

<strong>da</strong>no; e parece mais excesso <strong>do</strong> sentir que reali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> parecer. Quan<strong>do</strong> os<br />

<strong>caso</strong>s não são capitais para merecerem a morte, onde com o molesto <strong>do</strong><br />

cárcere se ajunta o temeroso <strong>do</strong> castigo e faz liga a privação <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de com<br />

o receio a pena, não se pode avaliar a prisão pelo excessivo <strong>da</strong> mágoa, para<br />

vos mostrardes tão impaciente. Não consiste o abatimento no cárcere, mas na<br />

causa; e quan<strong>do</strong> esta de si não desacredita a estimação <strong>da</strong> pessoa, não lhe<br />

pode causar a prisão nem afronta, nem desprezo. Chorava a mulher de<br />

Sócrates o vê-lo preso sem culpa, e ele lhe respondeu:<br />

culpa<strong>do</strong>?<br />

- Pois queríeis vós que Sócrates, vosso esposo, estivesse preso e<br />

Como se dissera que sentiria a prisão se se vira culpa<strong>do</strong>, mas que na<strong>da</strong><br />

o afligia, pois se considerava inocente. Se as causas de ter embarga<strong>da</strong> a<br />

liber<strong>da</strong>de não são abati<strong>da</strong>s, que descrédito pode seguir-se a quem está preso?<br />

Sen<strong>do</strong> Catão Uticense o oráculo <strong>da</strong> moléstia de to<strong>da</strong> Roma, foi nela<br />

encarcera<strong>do</strong> por man<strong>da</strong><strong>do</strong> de Trebónio, tribuno <strong>do</strong> povo, seu contrário. Do que<br />

Catão fez pouco <strong>caso</strong>. Porque as paredes e grades não deslustram a quem<br />

seus honra<strong>do</strong>s procedimentos autorizam.<br />

Há bens tão pouco lembra<strong>do</strong>s que se não conhecem senão depois de<br />

perdi<strong>do</strong>s: um destes é a liber<strong>da</strong>de, que não avultan<strong>do</strong> na estimação de quem a<br />

logra, vem só a ser conheci<strong>do</strong> seu valor quan<strong>do</strong> dela o privam. Este é um <strong>do</strong>s<br />

interesses que <strong>da</strong> prisão se colhe, o conhecer-se a grande estimação que se<br />

deve fazer <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de, quan<strong>do</strong> depois <strong>do</strong> cativeiro em boa paz se goza. Pois,<br />

como ensina Aristóteles 523 , um contrário é o que com mu<strong>da</strong> eloquência é<br />

panegírico que aplaude ao outro. À vista tenebrosa <strong>da</strong> noite adquire encómios<br />

o dia; à vista <strong>do</strong> estron<strong>do</strong>so <strong>da</strong> guerra causa suspiros a tranquili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> paz;<br />

nas tormentas procelosas <strong>do</strong> mar se dá a conhecer o remanso deseja<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

terra; e assim nos outros contrários. Pois para ao diante saber estimar-se a<br />

Arist., Rhet. 2.

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