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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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132 Padre Mateus Ribeiro<br />

Grande vício é o <strong>da</strong> inveja: princípio <strong>da</strong>s discórdias lhe chamou<br />

Demócrito 172 ; enfermi<strong>da</strong>de causa<strong>da</strong> de bens alheios, Cícero 173 ; ocasiona<strong>do</strong> de<br />

opulências estranhas, Salústio 174 ; tormento <strong>da</strong>s virtudes a descreveu Quinto<br />

Cúrsio 175 ; castigo de si mesma a intitulou Ovídio 176 ; raiz <strong>do</strong>s homicídios lhe<br />

chamou S. João Crisóstomo 177 ; porque, na ver<strong>da</strong>de, de um ânimo invejoso bem<br />

se pode presumir to<strong>da</strong> a cruel<strong>da</strong>de e tirania. Exemplo seja o famoso poeta<br />

trágico Euripides ateniense, cujos poemas em seu tempo foram tão aplaudi<strong>do</strong>s<br />

e celebra<strong>do</strong>s que puseram em dúvi<strong>da</strong> os de Sófocles, a quem Cícero dá título<br />

de divino, pela admirável erudição de suas obras, não se saben<strong>do</strong> determinar a<br />

república de Atenas a qual destes poemas laureasse. Este Euripides, vin<strong>do</strong><br />

uma noite recolhen<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> paço d'el-rei Arquelau, com quem em Macedónia<br />

privava e com quem tinha cea<strong>do</strong> à própria mesa, favor que lhe granjeou a fama<br />

de seus versos, foi morto cruelmente por ordem de um priva<strong>do</strong> d'el-rei que,<br />

invejoso <strong>do</strong>s louvores que à sua vista lhe fazia, quis satisfazer com a morte <strong>do</strong><br />

descui<strong>da</strong><strong>do</strong> Euripides os temores que tinha de recear se diminuísse sua<br />

privança, que de ordinário não descansa a inveja em poderosos menos que<br />

com fins tão lamentáveis. Assim estes conjura<strong>do</strong>s contra a vi<strong>da</strong> de Henrique<br />

trataram de o abrasarem no mesmo leito em que estava com quanti<strong>da</strong>de de<br />

pólvora, que em outro an<strong>da</strong>r inferior <strong>do</strong> paço que à camera de Henrique<br />

correspondia, ocultamente puseram; porém descobrin<strong>do</strong>-se o cruel intento,<br />

quasi ao mesmo tempo em que havia de executar-se, sentin<strong>do</strong> el-rei já o rumor<br />

<strong>da</strong> gente arma<strong>da</strong> <strong>da</strong> conjuração, se levantou <strong>da</strong> cama assim despi<strong>do</strong> como<br />

estava e em companhia de um pajem seu confidente procurou esconder-se a<br />

este repentino furor em um lugar <strong>do</strong> paço escuro e pouco sabi<strong>do</strong>. Oculto nele<br />

esteve por muito espaço de tempo, e parecen<strong>do</strong>-lhe que já os <strong>da</strong> conjuração<br />

seriam i<strong>do</strong>s, visto que o não achavam, man<strong>do</strong>u o pajem a ver se estava segura<br />

a saí<strong>da</strong>, mas sen<strong>do</strong> visto deles (que to<strong>da</strong>via estavam em guar<strong>da</strong> e sentinela<br />

para que não lhe escapasse, ten<strong>do</strong> cerca<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> em ro<strong>da</strong>) foi logo o pajem<br />

172 Apud Stob.<br />

173 Cicer., Conjur. Catil.<br />

174 Salust.<br />

175 Quint. Curt.<br />

176 Ovid., Lib. 8. 2. Metam.<br />

177 Chrisost., Homil. 14. sup. Genes.

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