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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 311<br />

dilata<strong>do</strong>s dias que teriam por alívio se se lhes comutasse o vivo de seu<br />

sentimento por breves horas? Se fordes sentencia<strong>do</strong>, não será novi<strong>da</strong>de; que<br />

Séneca e Lucano o foram <strong>do</strong> tirano Nero. Sócrates injustamente sentencia<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s juízes areopagitas e Fócion, insigne capitão ateniense, falsamente<br />

acusa<strong>do</strong> e sentencia<strong>do</strong>, um e outro à morte com grande valor a sofreram, sem<br />

<strong>da</strong>rem a mais pequena demonstração de covardia; que com a morte é termo<br />

inevitável <strong>do</strong>s perío<strong>do</strong>s de nossa vi<strong>da</strong>, porque nos há-de assombrar quan<strong>do</strong><br />

chegue, pois enfim há-de chegar mais ou menos tarde? Tu<strong>do</strong> quanto tem<br />

passa<strong>do</strong> de nossa vi<strong>da</strong>, diz Séneca 316 , são já despojos <strong>da</strong> morte. E quem tem<br />

já tanta parte <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cobra<strong>da</strong>, que admiração pode causar quan<strong>do</strong> remata a<br />

dívi<strong>da</strong>? To<strong>do</strong>s os dias dividimos com a morte, pois ca<strong>da</strong> dia se perde alguma<br />

parte <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, acrescenta o mesmo Séneca; e assim é tal nosso viver que nem<br />

de to<strong>do</strong> se pode chamar vi<strong>da</strong>, pois dela leva tanta parte a morte, nem se pode<br />

chamar morte, pois tem os efeitos de vi<strong>da</strong>.<br />

Sentis o ser em teatro público: to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> é teatro de nossas vi<strong>da</strong>s<br />

em que ca<strong>da</strong> um de nós seu papel representa, como ensina o padre Santo<br />

Agostinho 317 , até que a tragicomédia de nossa vi<strong>da</strong> se acaba; e assim que<br />

importa pouca o particular teatro para morrer, se em to<strong>da</strong> a parte <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

como em teatro se morre. Ser na presença de muitos olhos não pode causar<br />

pena, que se tiverdes muitos que vos vejam, também entre eles haverá muitos<br />

que de vós se compadeçam e dividi<strong>da</strong> a pena fica mais leve. Que por isso<br />

disse São Gregório Papa 318 que era alívio para a <strong>do</strong>r a visita e vista de quem<br />

se compadece dela. A pena de que ninguém mostra compaixão fica to<strong>da</strong> no<br />

coração de quem a padece, por não haver quem dela pela comiseração<br />

participe; mas quan<strong>do</strong> muitos se mostram enterneci<strong>da</strong>mente senti<strong>do</strong>s, divide-se<br />

<strong>do</strong> coração como rio em arroios, sen<strong>do</strong> alívio conhecer que há quem seus<br />

desgostos sinta e, se lhes possível fora, livrá-la deles.<br />

Tereis também muitos, ou para melhor dizer to<strong>do</strong>s, que com orações vos<br />

acompanhem: que não é pequeno bem, pois diz Santo Ambrósio 319 que parece<br />

b Senec, Epist. 2.<br />

7 S. Aug., Lib. 3. De civil Dei.<br />

8 Gregor. P., 4. Moral.<br />

9 S. Ambros., De psenit.

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