17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

302 Padre Mateus Ribeiro<br />

defensa e pôr fogo à galé para não ficarem dela mais que as cinzas.<br />

Porque se havemos de morrer por levanta<strong>do</strong>s, melhor nos será morrer<br />

por valerosos. Zaide Sultão.<br />

Isto continha a carta <strong>do</strong> mouro e a informação <strong>do</strong> sol<strong>da</strong><strong>do</strong> espanhol que<br />

a trazia, com que o general se viu confuso e chaman<strong>do</strong> a conselho logo os<br />

capitães <strong>da</strong>s outras galés, com os quais e o pai <strong>da</strong> senhora Lucin<strong>da</strong> e as<br />

pessoas principais que iam embarca<strong>da</strong>s na capitania, onde eu juntamente ia,<br />

se pôs em conselho a resposta que havia de <strong>da</strong>r-se, sobre que houve diversos<br />

pareceres. Uns diziam que a resposta fosse acometê-los, porque nem sua<br />

rebelião era merece<strong>do</strong>ra de outra resposta, nem <strong>do</strong>s ameaços <strong>do</strong> mouro havia<br />

que recear; porque eram meios só de ver se podiam escapar <strong>do</strong> perigo. Porque<br />

apenas se veriam assalta<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s seis galés, quan<strong>do</strong> acovar<strong>da</strong><strong>do</strong>s se<br />

renderiam. Nem era crédito <strong>da</strong> arma<strong>da</strong> real de um monarca tão grande ouvir<br />

propostas de uns mouros escravos levanta<strong>do</strong>s, quanto mais conceder-lhes<br />

parti<strong>do</strong>s, e não havia mais que pendurá-los nas antenas. Deste parecer eram<br />

os mais <strong>do</strong>s capitães. Tomou-se o parecer <strong>do</strong> pai <strong>da</strong> senhora Lucin<strong>da</strong>, como<br />

pessoa tão avisa<strong>da</strong> e que ia tão interessa<strong>do</strong> nesta empresa, o qual disse<br />

assim:<br />

- Suposto, senhores, que meu parecer tenha tão pouco lugar entre<br />

pessoas tão discretas e no militar exercício tão experimenta<strong>da</strong>s, contu<strong>do</strong>, pois<br />

me dão licença para falar, direi o que me parece. A origem <strong>da</strong> fugi<strong>da</strong> desta galé<br />

nasceu <strong>do</strong> injusto atrevimento <strong>do</strong> capitão Juliano no rapto de Lucin<strong>da</strong>, minha<br />

filha, e assim menos culpa<strong>do</strong>s são os mouros em se levantarem com pretexto<br />

de fugirem, <strong>do</strong> que ele que os libertou e armou com intentos de ofender-me.<br />

Desejar a liber<strong>da</strong>de é afecto natural ao prisioneiro e não se há-de <strong>da</strong>r ao<br />

inimigo cativo o suave <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de; porque lhe é sobremo<strong>do</strong> insofrível tragar o<br />

agro de preso, quem ven<strong>do</strong>-se fora <strong>do</strong> cativeiro gostou o <strong>do</strong>ce de livre. Fiar<br />

fideli<strong>da</strong>des <strong>do</strong> inimigo é solicitar impossíveis, sen<strong>do</strong>, como disse Públio Mimo, o<br />

melhor seguro a desconfiança deles. Mas como Juliano estava <strong>da</strong> afeição<br />

cego, não abriu os olhos ao perigo.<br />

Pressuposto pois que o culpa<strong>do</strong> nisto é Juliano, vejamos na proposta de<br />

Zaide o que pede e o que arriscamos. Se vem a ser menos mal o conceder ou<br />

o negar. Pede-nos segurança <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e liber<strong>da</strong>de dele e de seus

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!