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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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O <strong>caso</strong> Mateus Ribeiro 79<br />

tanto nos temas como na organização diegética, consideran<strong>do</strong> a intenção <strong>do</strong><br />

autor, expressa em vários prólogos, e atenden<strong>do</strong> à função de que se revestem<br />

as suas narrativas, julgamos que esta novela deve ser designa<strong>da</strong> por exemplar.<br />

A exemplari<strong>da</strong>de de Alívio de tristes resulta de uma acumulação de<br />

estratégias que visam servir ao leitor uma lição moral e <strong>do</strong>utrinária, assente na<br />

ideologia cristã e nos valores <strong>da</strong> nobreza, afinal o público-alvo destas<br />

narrativas. Seguin<strong>do</strong> a lição condensa<strong>da</strong> por Horácio no binómio prodesse ac<br />

delectare, para mais eficazmente persuadir os leitores <strong>do</strong>s ensinamentos<br />

veicula<strong>do</strong>s nesta obra, o autor socorreu-se de vários artifícios narrativos<br />

apropria<strong>do</strong>s para facultar a modera<strong>da</strong> recreação <strong>do</strong> espírito que facilita a<br />

apreensão <strong>da</strong> deseja<strong>da</strong> moralização.<br />

As narrativas que compõe esta novela, com estruturas algo narrativas<br />

repetitivas, mas que pretendem explicitar, pela amplificatio, um código de<br />

conduta <strong>da</strong>s personagens nobres ao serviço <strong>da</strong> temática <strong>do</strong> desengano (assim<br />

se explican<strong>do</strong> o convencionalismo <strong>da</strong> sua descrição física e as escassas<br />

anotações psicológicas, assim como a nota artificial e previsível <strong>do</strong> seu<br />

comportamento), investin<strong>do</strong> sobretu<strong>do</strong> no deleite, tentan<strong>do</strong> agra<strong>da</strong>r,<br />

surpreender e captar a atenção <strong>do</strong> leitor pela varie<strong>da</strong>de e vivaci<strong>da</strong>de destas<br />

diegeses, procuram alcançar a utilitas como forma de legitimação <strong>do</strong> seu<br />

conteú<strong>do</strong>.<br />

Num universo diegético <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> pela vivência amorosa, para dissuadir o<br />

leitor <strong>do</strong> equívoco <strong>da</strong> efemeri<strong>da</strong>de <strong>da</strong> beleza e <strong>da</strong> fugaci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> terrena,<br />

desterro em que vive o ser humano, são arrola<strong>do</strong>s numerosos exempla<br />

retóricos que servem de lição para os leitores que se identifiquem com as<br />

situações vivi<strong>da</strong>s pelos protagonistas. Usualmente segui<strong>do</strong>s de comentários<br />

ilustra<strong>do</strong>s com a enumeração de <strong>caso</strong>s históricos que espelhem situações em<br />

tu<strong>do</strong> idênticas, estas histórias apresentam a condenação <strong>do</strong>s comportamentos<br />

inadequa<strong>do</strong>s e, pelo contrário, mostram a recompensa devi<strong>da</strong> àqueles que<br />

actuam de forma virtuosa: são premia<strong>do</strong>s os cavaleiros nobres, briosos e<br />

firmes no seu amor e as <strong>do</strong>nzelas honestas, discretas, recata<strong>da</strong>s e constantes<br />

nos seus sentimentos; são puni<strong>do</strong>s os mancebos indecorosos, atrevi<strong>do</strong>s e<br />

movi<strong>do</strong>s pela violência <strong>da</strong> vontade intolerante a uma esquivança e as figuras<br />

femininas que se deixam seduzir pelas falsas promessas <strong>do</strong>s jovens,

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