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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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1068 Padre Mateus Ribeiro<br />

Culpas-me por que estudei, se era o meu morga<strong>do</strong> rico? To<strong>da</strong>s as<br />

riquezas tiveram origem ou <strong>da</strong>s armas, ou <strong>da</strong>s letras; porém eu vim a<br />

estu<strong>da</strong>r a Bolonha só a saber conhecer tua ingratidão, toman<strong>do</strong> até agora<br />

postila de saber querer-te e lições de saber amar-te: este estu<strong>do</strong> puderas<br />

justamente censurar por mal emprega<strong>do</strong>, pois havia de ser tão pouco<br />

agradeci<strong>do</strong>. Mas com tantos anos de estu<strong>do</strong> nunca pude conhecer, senão<br />

agora, que debaixo <strong>da</strong> beleza de teu rosto se encobria tão viva ingratidão<br />

em teu peito, que se a natureza estivera no rosto retrata<strong>da</strong> a ninguém<br />

agra<strong>da</strong>ras, antes to<strong>do</strong>s de ti fugiram. Já por te avaliares de Raimun<strong>do</strong><br />

queri<strong>da</strong>, com as ambições de duquesa me desprezas? Não te<br />

desvaneças tão ce<strong>do</strong> pelo que pode chegar mui tarde; pois raras vezes<br />

se viu voar ao sólio mais sublime só fia<strong>da</strong> nas asas <strong>da</strong> beleza, e o que<br />

pende de alheia vontade nunca assegurou venturas, como em ti<br />

experimento. Quiseste quebrar com o que me devias por ser tanto, que<br />

me negaste conhecer a obrigação por não poder desendivi<strong>da</strong>r-te dela. E<br />

ain<strong>da</strong> que eu para sempre me despi<strong>do</strong> de ser acre<strong>do</strong>r, tu sempre ficarás<br />

sen<strong>do</strong> a mais ingrata deve<strong>do</strong>ra.<br />

Isto continha a carta que, antes de a fechar, li a meus amigos, que a<br />

aprovaram por bem ajusta<strong>da</strong> ao intento de minha queixa e de sua ingratidão.<br />

Com ansioso desejo esperava que rompesse a aurora o negro manto <strong>da</strong> noite<br />

para me despedir de Carlos e me ver livre <strong>da</strong> casa <strong>do</strong>nde tão agrava<strong>do</strong> meu<br />

infelice amor saía. Enfim rompeu a luz ao assombro <strong>da</strong>s trevas, dei a carta à<br />

cria<strong>da</strong> para que a Fenisa a desse, mandei aos cria<strong>do</strong>s selassem logo os<br />

cavalos e entran<strong>do</strong> a despedir-nos de Frederico Manfre<strong>do</strong> e de seus filhos, que<br />

se admiraram <strong>da</strong> brevi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> parti<strong>da</strong>, porém demos-lhes por desculpa<br />

importava nesse dia tornar-nos a Cesena, com que de Bom <strong>Porto</strong>, para o não<br />

vermos mais, nos despedimos.<br />

Cap. XXI.<br />

Da resolução de esta<strong>do</strong> que escolheu Lisar<strong>do</strong> e como se despediu <strong>do</strong>s<br />

ermitães

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