17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 227<br />

<strong>do</strong> seu querer, porque lhe falta o <strong>do</strong>mínio; e ain<strong>da</strong> está o perigo em que<br />

descobrin<strong>do</strong>-se o roubo desta <strong>do</strong>nzela, que sen<strong>do</strong> ilustre e seus pais tão<br />

vali<strong>do</strong>s é certo em breve descobrir-se, nós como rouba<strong>do</strong>res pagaremos a<br />

pena ao rigor de um laço e ele logran<strong>do</strong> o que deseja se assegura com a<br />

fugi<strong>da</strong>. Sempre o rigor se põe contra os desvali<strong>do</strong>s e faz liga a fortuna com a<br />

morte contra os desempara<strong>do</strong>s. Por um mouro quem há-de interceder? Antes<br />

para aliviarem a Juliano a culpa nos lançarão às costas to<strong>da</strong> a pena. Não saber<br />

lograr as venturas é habilitar-se para as desgraças; perder a oportuni<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

ocasião é cerrar as portas à queixa e abri-las ao arrependimento. Isto digo,<br />

porque pois a ventura nos convi<strong>da</strong> com o favor, não percamos a ocasião com o<br />

descui<strong>do</strong>. Estamos livres e arma<strong>do</strong>s, a galé sem capitão, muitos <strong>do</strong>s sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

em terra, os força<strong>do</strong>s <strong>da</strong> nossa parte, pois por conseguirem a liber<strong>da</strong>de hão-de<br />

seguir nosso intento; pren<strong>da</strong>mos a Juliano e partamos com ele à galé, que logo<br />

a renderemos, e largan<strong>do</strong> as velas neste silêncio <strong>da</strong> noite, confiemos <strong>do</strong> valor e<br />

<strong>da</strong> ventura o sair <strong>da</strong> moléstia <strong>do</strong> cativeiro, que só para evitá-la se pode<br />

ousa<strong>da</strong>mente aventurar a vi<strong>da</strong>.<br />

Aprovam to<strong>do</strong>s o parecer por acerta<strong>do</strong>, e conhecen<strong>do</strong> que na brevi<strong>da</strong>de<br />

consistia o eficaz remédio, pressan<strong>do</strong> os passos, levan<strong>do</strong> <strong>da</strong> mão a<br />

desconsola<strong>da</strong> Lucin<strong>da</strong> o mouro que deu o conselho, a quem os outros como a<br />

capitão seguiam, chegaram aonde o esquife esperava com o desditoso Juliano,<br />

que sain<strong>do</strong> a terra para receber a violenta<strong>da</strong> pren<strong>da</strong> que o mouro lhe levava,<br />

em um instante se viu deles preso e despoja<strong>do</strong> <strong>da</strong>s armas, ameaçan<strong>do</strong>-o com<br />

cruel morte se levantasse a voz ou desse o menor motivo para serem senti<strong>do</strong>s.<br />

Embarcaram-se to<strong>do</strong>s com o maior silêncio, e chegan<strong>do</strong> à galé que fora <strong>da</strong><br />

barca estava, obrigaram a Juliano a que falasse para ser <strong>da</strong> sentinela<br />

conheci<strong>do</strong>, que o temor <strong>da</strong> morte em que se via lhe fazia obedecer ao gosto de<br />

quem com a espa<strong>da</strong> na mão o ameaçava. Subiram à galé, e como os poucos<br />

sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s que nela havia estavam ocupa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> sono, como quem temia tal<br />

infortúnio, facilmente os renderam os que iam preveni<strong>do</strong>s e de armas e valor<br />

acompanha<strong>do</strong>s. Viram-se cativos os que <strong>do</strong>rmiam livres e viram-se com<br />

liber<strong>da</strong>de os que estavam aprisiona<strong>do</strong>s; e em tão breve espaço mostrou a<br />

fortuna tal mu<strong>da</strong>nça, porque para as felici<strong>da</strong>des e desgraças raramente man<strong>da</strong><br />

diante mensageiros que avisem. Escravo de um me<strong>do</strong> era Sibaris Persiano,<br />

que com cadeias nos pés e grilhões o servia, e de repente o tomou Ciro por

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!