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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte IV 607<br />

contra César, não só não foi ouvi<strong>do</strong>, mas ain<strong>da</strong> com violência <strong>da</strong> cadeira tira<strong>do</strong>.<br />

Bem disse Euripides que era mais fácil empenho dizer o que agra<strong>da</strong> <strong>do</strong> que o<br />

que aproveita; porque o primeiro sempre lisonjeia o gosto e o segun<strong>do</strong> nem<br />

sempre assegura a atenção. Porém como meu intento seja o agradável <strong>da</strong> paz<br />

e não o calamitoso <strong>da</strong> guerra, o útil <strong>da</strong> concórdia e não o arrisca<strong>do</strong> <strong>do</strong> ódio, a<br />

tranquili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> união e não o tempestuoso <strong>da</strong> vingança, o saudável <strong>da</strong><br />

amizade e não o nocivo <strong>do</strong> aborrecimento, e finalmente o esquecimento <strong>da</strong>s<br />

parciali<strong>da</strong>des e o princípio <strong>do</strong> amor, vos peço, senhora Aurora, queirais com<br />

paciência ouvir-me este espaço que a cortesia <strong>do</strong> senhor Octávio Lamberias<br />

me concede para poder falar-vos, porque quan<strong>do</strong> de to<strong>do</strong> vos não deva o<br />

despacho, ao menos vos fique deven<strong>do</strong> a cortesia <strong>da</strong> atenção.<br />

Conheço que a morte <strong>do</strong> senhor Aurélio, que esteja em glória, é<br />

merece<strong>do</strong>ra de to<strong>do</strong> o justo sentimento, pois outro irmão não tínheis e ele por<br />

sua pessoa e valor merecia tanto. Mas quan<strong>do</strong> respeitou a morte<br />

merecimentos? Costuma fazer o emprego de seu golpe no que mais custa,<br />

para nos privar <strong>do</strong> que mais vai. Discretamente disse o Séneca que os mortos<br />

vão ensinan<strong>do</strong> os caminhos aos vivos, pois em jorna<strong>da</strong> tão precisa, quan<strong>do</strong> um<br />

de vista se perde, já o outro se lhe avizinha. Pendenciou o senhor Aurélio com<br />

o preso Júlio: os motivos teriam origem na desconfiança e esta as raízes nas<br />

antigas parciali<strong>da</strong>des e contrários ban<strong>do</strong>s de Galeazzo e Lambertases, famílias<br />

tão ilustres como opostas, por quem tanto sangue se tem derrama<strong>do</strong> nas<br />

praças de Bolonha, tantos incêndios devasta<strong>do</strong> o sumptuoso de seus edifícios,<br />

tantas hostili<strong>da</strong>des assola<strong>do</strong>s os campos; pois se algum dia hão-de terminar-se<br />

estas cruentas ruínas, a Bolonha vossa pátria tão nocivas e ain<strong>da</strong> a to<strong>da</strong> Itália<br />

lamentáveis, em vossa mão está hoje seu remédio, para que em Bolonha viva<br />

desassombra<strong>da</strong> vossa família sem sustos e Itália sem pensão de tão repeti<strong>da</strong>s<br />

inquietações. Porque como estas tão ilustres nas mais <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des lançaram<br />

raízes por honrosos casamentos, a to<strong>da</strong>s chegam os pesares que se lhe<br />

comunicam de seu tronco.<br />

Direis, senhora Aurora, e com razão, que como sen<strong>do</strong> morto o senhor<br />

Aurélio e preso o homici<strong>da</strong> Júlio, preten<strong>do</strong> eu que em lugar <strong>do</strong> castigo se lhe dê<br />

perdão e se confirmem pazes? Ao que responderei com o que diz Platão na

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