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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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498 Padre Mateus Ribeiro<br />

para cabalmente declarar-se em palavras intercadentes na pronunciação ao<br />

movimento <strong>do</strong>s suspiros, sem poder disfarçar o que sentia, porque a <strong>do</strong>r<br />

violentamente se publicava, lhe disse assim:<br />

- Bem tem mostra<strong>do</strong> a fortuna o pouco que lhe devo nos disfavores com<br />

que me trata, pois hoje vos ausenta de meus olhos, para me despojar de to<strong>do</strong><br />

alívio. Nunca aos desditosos foi o bem de dura, nem o mal de passagem.<br />

Mostrou-me a ventura o bem para perdê-lo, para que suas memórias me<br />

atormentem quan<strong>do</strong> perdi<strong>do</strong>; pon<strong>do</strong>-me o alívio distante e a <strong>do</strong>r presente; o<br />

bem para senti-lo e a <strong>do</strong>r para sofrê-la. Ide-vos embora, esposo Reginal<strong>do</strong>,<br />

alegria de meu coração e lágrimas de meus olhos, e estai seguro que suposto<br />

que a fortuna pode roubar-me o alívio de ver-vos, jamais me privará <strong>da</strong> firmeza<br />

de amar-vos. Viverei de firme e morrerei de magoa<strong>da</strong>, que poderão matar-me<br />

ausências, mas não vencer-me mu<strong>da</strong>nças, e correrão em mim parelhas o ser<br />

constante e o ser desgraça<strong>da</strong>, pois em pessoas como eu só uma eleição tem a<br />

vontade; e pois fui amante na escolha, serei diamante na firmeza.<br />

Com isto se despediram, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> qual comissão a seus olhos para<br />

que continuassem as lágrimas o que faltava nas vozes: que sempre seriam<br />

mais, se as lágrimas foram menos. São as lágrimas desafogo <strong>da</strong> <strong>do</strong>r, como<br />

lhes chamou Euripides 481 , penoso alívio <strong>da</strong>s aflições, remédio violento <strong>da</strong>s<br />

tristezas, tormenta em que navega a alma nas opressões <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, dilúvios que<br />

move a pena nas turbulências <strong>da</strong> fortuna, tribunal para onde apela o coração<br />

magoa<strong>do</strong>, banhos em que intenta lavar-se o sentimento, mares em que se<br />

engolfa quem vive atribula<strong>do</strong>, chuva que rende muito e rende pouco e<br />

finalmente débil refúgio <strong>do</strong>s disfavores <strong>da</strong> ventura com que se escu<strong>da</strong>m os<br />

ofendi<strong>do</strong>s de seus assaltos, para defender-se pequenos e grandes para<br />

queixar-se.<br />

Acompanhou Vespasiano até entrar na nau a Reginal<strong>do</strong>, largou ao vento<br />

as velas e suas arrisca<strong>da</strong>s esperanças, despediu-se o sena<strong>do</strong>r magoa<strong>do</strong>,<br />

quan<strong>do</strong> ele navegava tão senti<strong>do</strong>. Onde agora o deixaremos engolfan<strong>do</strong>-se nas<br />

on<strong>da</strong>s em companhia de to<strong>da</strong> arma<strong>da</strong> que para Chipre navegava, para<br />

tratarmos <strong>do</strong> conde que sem querer ver a Flora, nem ela parecer em sua<br />

presença, como viu a Reginal<strong>do</strong> ausente, despedin<strong>do</strong>-se de Vespasiano,<br />

Euripid., in Trat.

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