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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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538 Padre Mateus Ribeiro<br />

São tantas as obrigações que aos pais devemos, diz Aristóteles 521 , que<br />

nunca dignamente podemos compensá-las, porque nos geraram, porque nos<br />

criaram e porque nos <strong>do</strong>utrinaram. Lá refere Marco António Sabélico 522 que<br />

sen<strong>do</strong> Leão eleito empera<strong>do</strong>r por suas singulares virtudes e merecimentos, ele<br />

deu o título e insígnias imperiais a Zeno Isaurico, seu pai, e se privou de uma<br />

tal digni<strong>da</strong>de para que seu pai a tivesse. O templo <strong>da</strong> Pie<strong>da</strong>de, em Roma, teve<br />

princípio no consula<strong>do</strong> de Caio Quíncio e Marco Atílio, <strong>da</strong>quela pie<strong>do</strong>sa filha<br />

que, estan<strong>do</strong> seu pai preso e condena<strong>do</strong> a ser morto à fome, ela pedin<strong>do</strong><br />

licença para entrar a vê-lo, e sen<strong>do</strong> primeiro <strong>da</strong>s guar<strong>da</strong>s vista que nenhum<br />

sustento levava, o sustentou e alimentou com o leite de seus peitos tantos dias;<br />

até que lhe alcançou o sena<strong>do</strong> o perdão, man<strong>da</strong>n<strong>do</strong>-se edificar no lugar <strong>do</strong><br />

cárcere este templo à Pie<strong>da</strong>de, como conta Plínio.<br />

Movi<strong>do</strong> eu <strong>do</strong>s desejos pie<strong>do</strong>sos de pôr a meu pai em liber<strong>da</strong>de, pois a<br />

meu respeito deixan<strong>do</strong> sua pátria e casa veio a Urbino, onde em prisão tão<br />

dilata<strong>da</strong> há tanto que padece seus repeti<strong>do</strong>s desgostos, deixei a Diana em<br />

companhia de minha mãe, e acompanha<strong>do</strong> de <strong>do</strong>us irmãos que comigo an<strong>da</strong>m<br />

e outros parentes nossos, que são os que presentes vedes, prometemos de<br />

não tornar a Lucca, nossa pátria, sem levarmos a meu pai em nossa<br />

companhia, que não me sofre o amor e obrigações que lhe devo que viva eu no<br />

seguro <strong>do</strong> descanso e meu venerável pai na moléstia <strong>do</strong>s trabalhos em que o<br />

vemos. Meu sogro, ven<strong>do</strong>-se com tu<strong>do</strong> secresta<strong>do</strong> nesta fortuna, que a to<strong>do</strong>s<br />

envolve, se foi a estar em Lucca em companhia de Diana, ten<strong>do</strong> por alívio, já<br />

que se via sem o que possuía, ao menos lograr a vista e companhia de uma<br />

filha a quem tanto amava. Temos feito mil diligências, assim por valimentos de<br />

pessoas grandes, como indústria de vários meios, para ver se se podia<br />

remediar esta pena que me aflige; e ven<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> dia os portos mais fecha<strong>do</strong>s a<br />

meu desejo, demos em <strong>da</strong>r a nossos contrários to<strong>do</strong>s os pesares que<br />

podemos, desafogan<strong>do</strong> em parte com seus desgostos partes <strong>do</strong>s que nos<br />

causam. Muitas vezes nos saíram a buscar com a justiça para prender-nos,<br />

mas sempre voltaram ofendi<strong>do</strong>s. E an<strong>da</strong>mos já tão costuma<strong>do</strong>s a seus assaltos<br />

que me parece que an<strong>da</strong>m de nossas armas e resolutos assaltos mais<br />

Arist, Ethic. 8.<br />

Sabelic.

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