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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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474 Padre Mateus Ribeiro<br />

Uns se queixavam <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de que os obrigava, sen<strong>do</strong> esta o<br />

primeiro berço em que nasceram a surcar os mares e seus riscos, pois, como<br />

dizia Menandro, valera mais ser pobre no <strong>do</strong>micílio <strong>da</strong> terra <strong>do</strong> que intentar<br />

livrar-se <strong>da</strong> pobreza com os perigos <strong>do</strong> mar. Outros ressenti<strong>do</strong>s formavam<br />

queixas <strong>da</strong> ambição, pois os persuadira, ten<strong>do</strong> com que poderem<br />

convenientemente passar a vi<strong>da</strong>, assim de acrescentarem o que seguramente<br />

logravam, se aventuraram a perderem tu<strong>do</strong>, perden<strong>do</strong> as vi<strong>da</strong>s. Assim o<br />

escreveu Heró<strong>do</strong>to 460 que os ambiciosos de adquirirem o que está em poder<br />

alheio, vem a perder o que tinham em seu poder. Qual gemen<strong>do</strong> se arrependia<br />

<strong>da</strong> nociva curiosi<strong>da</strong>de de ver reinos estranhos, ven<strong>do</strong>-se agora tão vizinhos a<br />

não tornarem a jamais a ver o próprio, como reprova Platão 461 , condena<strong>do</strong> por<br />

nece<strong>da</strong>de querer especular terras estranhas quem to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> pudera<br />

despender em conhecer a própria. Assim o ensina Cícero 462 , julgan<strong>do</strong> por<br />

desacerto a demasia<strong>da</strong> curiosi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> que pouco importa.<br />

Enfim nesta confusão to<strong>do</strong>s de navegar pesarosos com diversos motivos<br />

se queixavam, porque to<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s assaltos <strong>da</strong> morte combati<strong>do</strong>s se viam.<br />

Conjurou-se a noite com a tormenta, fez liga em nosso <strong>da</strong>no o mar com os<br />

ventos, <strong>da</strong>vam-se as mãos o escuro com o perigo, uniu-se a confusão com o<br />

temor, e a nau de tantos golpes assalta<strong>da</strong> mostrava nos paracismos de venci<strong>da</strong><br />

que já enfraqueci<strong>da</strong> mal podia resistir a quem tinha tão valentes forças para a<br />

soçobrar. Dilatava-se a noite em despedir-se, porque parece que de novo<br />

intentava sustentar-se, não se <strong>da</strong>n<strong>do</strong> por venci<strong>da</strong> sem vencer-nos, como se<br />

quisera arvorar nosso destroço por triunfo. Oh mar, dizia eu, feito azul,<br />

matiza<strong>do</strong> de pérolas, que inquieto estás para o descanso! Quanto mais<br />

descansa<strong>do</strong> <strong>do</strong>rme qualquer pobre pastor na tosca cama de seu feno <strong>do</strong> que<br />

quem te busca nas turbulentas on<strong>da</strong>s de teus golfos! Que mal hospe<strong>da</strong>s a<br />

quem de ti se fia! Bem disse Anacharsis que eras sepulcro em que uma tábua<br />

divide a morte e a vi<strong>da</strong>. Enganas com o sereno para roubares com o tormento,<br />

lisonjeias com as promessas para sumergires com as on<strong>da</strong>s, que se sempre<br />

mostraras o perigo ninguém te buscara e se sempre te mostraras sossega<strong>do</strong><br />

Herod., apud Stob.<br />

Plat., De Republ.<br />

Cicer., in Lœl.

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