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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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226 Padre Mateus Ribeiro<br />

considerai a que extremo me chegou a fortuna, pois vos peço por favor a<br />

mesma cruel<strong>da</strong>de.<br />

Chorava minha mãe, lamentava Lucin<strong>da</strong> sua sorte, mas sen<strong>do</strong> as<br />

lágrimas de si tão poderosas, e mais na juvenil beleza de Lucin<strong>da</strong>, para<br />

conseguirem despachos, não puderam em os ânimos bárbaros <strong>da</strong>queles<br />

inimigos conseguir favor algum, que mais facilmente se enternecem as feras<br />

que corações em tais sujeitos. A resposta que deram entre a confusão não<br />

entendi<strong>da</strong> <strong>do</strong> arábigo que gritan<strong>do</strong> falavam, foi uns caminharem com Lucin<strong>da</strong>,<br />

que rompen<strong>do</strong> os ares com gritos apenas entre o silêncio <strong>da</strong> noite se lhe<br />

ouviram os ecos, e outros fecharem as portas com as chaves, para que meus<br />

lastima<strong>do</strong>s pais os não seguissem.<br />

Estavam os lugares e povoações distantes <strong>da</strong> quinta, e como nos<br />

cria<strong>do</strong>s, que intimi<strong>da</strong><strong>do</strong>s fugiram, o temor lhes tinha embarga<strong>do</strong> as vozes para<br />

gritarem, recean<strong>do</strong> se as levantassem que já com eles estavam os mouros e se<br />

imaginavam cativos, punham o remédio mais em se esconderem que em se<br />

ouvirem. Deixemos a meu pai nas aflições e a minha mãe nas lágrimas,<br />

impossibilita<strong>do</strong>s de poderem seguir a infeliz Lucin<strong>da</strong> mais que com seus<br />

suspiros e corrente de suas lágrimas, e acompanhemos a Lucin<strong>da</strong>, que leva<strong>da</strong><br />

nos braços de seus inexoráveis rouba<strong>do</strong>res, ferin<strong>do</strong> os ares com gritos,<br />

violentavelmente se ausentava <strong>da</strong>s caras pren<strong>da</strong>s que nela se reviam, <strong>da</strong> pátria<br />

que a criara e <strong>do</strong> pátrio <strong>do</strong>micílio em que vivia. Era <strong>da</strong> quinta ao mar meia<br />

légua de distância e a Nápoles duas de caminho, e paran<strong>do</strong> os cossários na<br />

representação, se bem mouros na reali<strong>da</strong>de, um deles, que mancebo na flor<br />

<strong>do</strong>s anos era e deles to<strong>do</strong>s respeita<strong>do</strong> por nobremente nasci<strong>do</strong>, disse aos<br />

companheiros desta sorte:<br />

- Lembra<strong>do</strong> estou, companheiros e amigos meus, que chamou Astíages,<br />

rei de Media e grande monarca <strong>da</strong> Ásia, de néscio e grosseiro de juízo a seu<br />

rebelde vali<strong>do</strong> Harpago, porque tratan<strong>do</strong> de tirar-lhe o reino em vingança <strong>do</strong><br />

filho que lhe deu a comer feito iguaria, não tratou de tomar o reino de Media<br />

para si próprio, senão para dá-lo a Ciro, que nele lhe sucedeu; não sei se<br />

merecêramos nós a mesma censura de pouco ajuiza<strong>do</strong>s, quan<strong>do</strong> ten<strong>do</strong> em<br />

nossas mãos o remédio, queiramos pô-lo no arbítrio de outrem. Prometeu-nos<br />

nosso capitão Juliano liber<strong>da</strong>de por lhe roubarmos esta moça; mas que não<br />

prometerá um amante por conseguir seu desejo? Dar-nos liber<strong>da</strong>de não pende

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