17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

70 A novela portuguesa no século XVII:<br />

as narrativas mitológicas de Teseu e Ariadne e de Jasão e Medeia para ilustrar<br />

a ingratidão de Henrique.<br />

A propósito <strong>da</strong> adulação e <strong>da</strong> lisonja tão frequentemente galar<strong>do</strong>a<strong>da</strong>s, em<br />

desfavor <strong>do</strong> papel que aos sábios, discretos e prudentes deve caber na<br />

governação, após arrolar vários <strong>caso</strong>s notáveis colhi<strong>do</strong>s nos livros de História,<br />

Dionísio apresenta a narrativa de Avenir, rei <strong>da</strong> índia, e <strong>do</strong> seu priva<strong>do</strong>,<br />

inveja<strong>do</strong> pelos cortesãos e por tal acusa<strong>do</strong> perante o rei de ser cristão e de<br />

pretender usurpar-lhe o reino. Fin<strong>da</strong> a narração, o próprio Peregrino anuncia o<br />

proveito moral que se pode retirar desta história: "Esta é a utili<strong>da</strong>de que a<br />

companhia <strong>do</strong>s sábios granjeia a quem assistem, <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-lhes conselhos nos<br />

perigos, advertências nas empresas, consolação nos desgostos, alívio nas<br />

queixas, remédio nos males." 2<br />

Face aos sucessivos infortúnios que o perseguem, não alcançan<strong>do</strong><br />

justificação para as tragédias que o envolvem a si e à sua família, causas<br />

ocultas ao entendimento humano, o Peregrino solicita ao Ermitão Felisberto<br />

uma explicação para a varie<strong>da</strong>de de esta<strong>do</strong>s, a desigual<strong>da</strong>de de prémios e a<br />

diversi<strong>da</strong>de de fortunas que no mun<strong>do</strong> proliferam. Remeten<strong>do</strong> a sua explicação<br />

para os secretos juízos <strong>da</strong> Divina Providência, Felisberto narra-lhe então a<br />

história de um ermitão que, apesar <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> de retiro, de virtude e<br />

mortificação <strong>da</strong> vontade, "foi grandemente tenta<strong>do</strong> algumas vezes de um<br />

espírito de blasfémia, não lhe parecen<strong>do</strong> justos os juízos de Deus a ele ocultos<br />

e não entendi<strong>do</strong>s"^ 33 . Guia<strong>do</strong> por um anjo, o ermitão assistiu incrédulo a um<br />

conjunto de actos incompreensíveis que o envia<strong>do</strong> <strong>do</strong> senhor executava contra<br />

aqueles que os hospe<strong>da</strong>vam, até que lhe foram explica<strong>da</strong>s as acções<br />

aparentemente demoníacas: roubou uma taça de prata a um cari<strong>do</strong>so homem<br />

que os agasalhou, porque a sua incessante recreação em contemplá-la fazia<br />

com que a sua devoção diminuísse; deu a mesma taça a um homem rico e<br />

sem bon<strong>da</strong>de, para que nesta vi<strong>da</strong> receba o prémio de alguma obra boa natural<br />

que tenha feito, pois o não há-de receber na outra; precipitou no rio o cria<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

terceiro hóspede que com tanta cari<strong>da</strong>de os recebeu, porque tinha firme<br />

propósito de matar a seu amo na noite seguinte; por fim, afogou no berço o<br />

Mateus RIBEIRO, Alivio de tristes e consolação de queixosos, Parte I, p.141.<br />

Mateus RIBEIRO, Alivio de tristes e consolação de queixosos, Parte I, p.153.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!