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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte III 441<br />

suspendeu a fugi<strong>da</strong>, não quis encontrar a quem o seguia o gosto de por sua<br />

mão matá-lo. Chegaram a este tempo os monteiros e outros cavaleiros, a quem<br />

ela referiu o bom acerto que Reginal<strong>do</strong> fizera, de que to<strong>do</strong>s o louvaram.<br />

Ela suborna<strong>da</strong> <strong>da</strong> rara gentileza de Reginal<strong>do</strong> e <strong>do</strong> valor que mostrara<br />

juntamente ao cortês serviço, agradeci<strong>da</strong> lhe pediu a acompanhasse até uma<br />

deliciosa casa de campo em que com seu pai assistia, oferta que ele aceitou<br />

por favor, lisonjea<strong>do</strong> <strong>da</strong> singular beleza de Flora, que assim a caça<strong>do</strong>ra se<br />

chamava; e com razão lhe competia o nome, porque em tu<strong>do</strong> representava a<br />

mais bela flor. Era isto no tempo <strong>da</strong> Primavera, e ain<strong>da</strong> quan<strong>do</strong> esta não<br />

chegara, sempre nas rosas de seu rosto a Primavera vivia. Pouco deviam seus<br />

olhos às esmeral<strong>da</strong>s, porque as esmeral<strong>da</strong>s à brilhante luz de seus olhos<br />

parece que seus ver<strong>do</strong>res deviam. A neve ficava escura à sua vista, porque<br />

seu rosto parecia eclipse <strong>da</strong> própria neve. O sol apurava os raios no <strong>do</strong>ura<strong>do</strong><br />

de seus cabelos, pois ca<strong>da</strong> madeixa sua era uma mina de raios, que quan<strong>do</strong> o<br />

denso <strong>da</strong>s nuvens os resplan<strong>do</strong>res <strong>do</strong> sol encobriam, sempre nos cabelos de<br />

Flora suas luzes ao mun<strong>do</strong> manifestavam, pois se para o sol podia haver<br />

cortina que o suspendesse, para a beleza de Flora não podia haver rebuço que<br />

a encobrisse quan<strong>do</strong> tantos prodígios de fermosura a publicavam. Era enfim<br />

Flora com tal extremo bela que ficava parecen<strong>do</strong> <strong>da</strong> beleza extremo, que<br />

podiam as penhas deixar-se enternecer de afeiçoa<strong>da</strong>s, porque só então não<br />

incorreriam no desaire de serem penhas, e quan<strong>do</strong> a nativa dureza as<br />

desacreditara, as brechas de afeiçoa<strong>da</strong>s as desculparam.<br />

Era Flora filha <strong>do</strong> conde Manfre<strong>do</strong>, rico senhor e mui aparenta<strong>do</strong> não só<br />

em Itália, mas em Sabóia e França, <strong>do</strong>nde descendia o ínclito solar de sua<br />

casa. Tinha Manfre<strong>do</strong> um filho sucessor de sua casa, de flori<strong>da</strong> i<strong>da</strong>de, que se<br />

chamava Carlos, mancebo de grandes esperanças, muito valor e grande aviso.<br />

Era o conde viúvo e era Flora o centro de seu amor e alvo de seus cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s.<br />

Acompanhou Reginal<strong>do</strong> a Flora até à quinta em que o conde e seu irmão<br />

assistiam, que ten<strong>do</strong> notícia <strong>do</strong> que Flora lhe referiu de seu grande valor e<br />

cortesia quan<strong>do</strong> <strong>do</strong>s monteiros e os que a seguiam se viu desampara<strong>da</strong> e<br />

ain<strong>da</strong> arrisca<strong>da</strong>, se o indómito javali usara <strong>do</strong>s arrojos de persegui<strong>do</strong>, o conde<br />

lhe pediu quisesse ficar em sua casa para assistir a Carlos, seu filho, que quasi<br />

<strong>da</strong> própria i<strong>da</strong>de era.

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