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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 277<br />

- Suspende, atrevi<strong>do</strong> conde, os passos que dás para minha desonra e<br />

ouve-me atento, se não queres que com este punhal me atravesse o peito.<br />

Parou Roberto admira<strong>do</strong> e me disse:<br />

- Ten<strong>do</strong> Demétrio sitia<strong>do</strong> a Rodes, desistiu de <strong>da</strong>r-lhe assalto nem pôr-<br />

Ihe fogo por não perigar uma pintura <strong>do</strong> insigne pintor Protógenes que sobre o<br />

muro estava; e assim não será muito que por suspender o golpe a esta beleza<br />

que tão caro me custa, aten<strong>da</strong> a ouvir-te.<br />

Respondi eu apaixona<strong>da</strong> e resoluta:<br />

- Amor, conde atrevi<strong>do</strong>, é rendimento <strong>da</strong> vontade e não violência <strong>da</strong><br />

tirania; triunfar de uma pessoa força<strong>da</strong> é vencer um corpo sem alma, uma<br />

imagem sem vi<strong>da</strong>. Presumir que te ofen<strong>do</strong> em não amar-te é desacerto de teu<br />

desejo ou ilusão de teu juízo, que como amor é parto <strong>da</strong> vontade, voluntário ha­<br />

de ser para ser legítimo e monstruoso seria quan<strong>do</strong> fosse força<strong>do</strong>. Não me<br />

inclinaram as estrelas a querer-te, porque vejo que não posso igualar-te, que<br />

quan<strong>do</strong> tanto na grandeza me não avantejaras, porventura que nas finezas me<br />

não excederas. Não quis minha fortuna que pudesse merecer-te para esposo e<br />

por isso não posso aceitar-te como amante, que pois sou pequena para<br />

mulher, também sou muito grande para <strong>da</strong>ma. Imaginas que no tosco de meu<br />

nascimento não pode encerrar-se uma condição mui briosa? Na tosca concha<br />

<strong>do</strong> nácar não se oculta a preciosi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pérola? Ou porventura custa menos<br />

cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s ao sol com a eficácia e influência de seus raios produzir o espinho <strong>do</strong><br />

que a rosa? Pois como te persuades que não haverá em mim tão briosos<br />

espíritos para defender-me como em ti abati<strong>do</strong>s para forçar-me? Se em ti<br />

corresponderam as obras ao ilustre de teu sangue, mais obrigação te corria de<br />

amparar-me que de ofender-me; mas como estás suborna<strong>do</strong> de teu lascivo<br />

desejo, não sentenciarás em meu favor, ain<strong>da</strong> que conheces a justiça. Se te<br />

presas de soberano, não abatas o altivo a conquistar minha humil<strong>da</strong>de; olha<br />

que é descrédito de bizarro intentares ofender a quem não te ofende. Sujeitos<br />

haverá que te mereçam, se pode merecer-se teu sujeito; aí empenha o<br />

senhoril, que será aplaudi<strong>do</strong>, e não <strong>do</strong>nde possas ser vitupera<strong>do</strong>. Partes tens<br />

para seres ama<strong>do</strong> de quem te iguale, não procures com violências sê-lo de<br />

quem não pode querer-te; porque será pedires ao céu flores e ao campo<br />

estrelas o pertenderes obrigar-me nem com tuas finezas, nem com teus

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