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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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798 Padre Mateus Ribeiro<br />

alegria, fazen<strong>do</strong> obséquios meu desejo às sombras de teu gosto, não saben<strong>do</strong><br />

definir o amplia<strong>do</strong> de minha sorte por considerar sem igual minha ventura,<br />

parecen<strong>do</strong>-me que a to<strong>do</strong>s podia causar inveja o bonançoso de minha vi<strong>da</strong> e<br />

serem feu<strong>da</strong>tários de meu contentamento os mais alegres. Mas, ai <strong>do</strong>r, que<br />

hoje me considero em tal esta<strong>do</strong> na baixa que tem <strong>da</strong><strong>do</strong> minhas bonanças, nos<br />

eclipses que padecem os antigos aplausos de minha estimação, que desejara<br />

que nunca o sol nascera e que sempre fora noite caliginosa para mi, para que<br />

não vira o mun<strong>do</strong> meus pesares, nem os homens neste esta<strong>do</strong> me pudessem<br />

ver a mi!<br />

Desta sorte se ia queixan<strong>do</strong> o lastima<strong>do</strong> Roberto, e sem dúvi<strong>da</strong><br />

acompanhavam seus olhos suas penosas queixas, que suposto que o escuro<br />

<strong>da</strong> noite não concedia à vista licença para descobrir quanto deseja, supriam os<br />

ouvi<strong>do</strong>s o que nos olhos faltava. Entemeceu-nos o magoa<strong>do</strong> de sua ânsia, e<br />

eu, como a ele caminhava mais vizinho, assi para aliviar-lhe a pena como por<br />

acudir por Lívia, a quem tanto culpava, me lembra que lhe falei assi:<br />

- Na ver<strong>da</strong>de, senhor Roberto, que se a fugi<strong>da</strong> esta noite de vossa<br />

esposa é o agrega<strong>do</strong> <strong>do</strong>s motivos que mais oprimem vosso coração e que mais<br />

estimulam vosso sentimento, bem me atrevo eu a mostrar que excedem vossos<br />

pesares os limites <strong>do</strong> sentir, queren<strong>do</strong> o extremoso <strong>da</strong> <strong>do</strong>r representar-vos<br />

maiores os efeitos <strong>do</strong> que a causa deles. É a causa, como diz Aristóteles 703 ,<br />

sempre primeiro que seus efeitos, e assi não devem os efeitos nem adiantar-<br />

se, nem exceder a causa. Ausentar-se vossa esposa com temor de lhe tirardes<br />

a vi<strong>da</strong>, ven<strong>do</strong>-vos destes senhores e parentes vossos tão acompanha<strong>do</strong>, em<br />

na<strong>da</strong> desacredita sua inocência de não vos haver ofendi<strong>do</strong>; porque quan<strong>do</strong> o<br />

direito faz suspeitosa a fugi<strong>da</strong> no delinquente, como disse Demóstenes 704 , é<br />

quan<strong>do</strong> se vê a fugi<strong>da</strong> sem a ela haver precedi<strong>do</strong> causa; porém à vista <strong>do</strong><br />

terror, se ain<strong>da</strong> nos homens o retiro carece de censura, e sen<strong>do</strong> poderoso o<br />

me<strong>do</strong> que cai sobre varão constante para anular to<strong>do</strong>s os contratos celebra<strong>do</strong>s<br />

com ele, e sen<strong>do</strong> a morte <strong>do</strong>s temores o maior, como diz o filósofo 705 e escreve<br />

Dem., in Arg. lib.

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