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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 347<br />

ten<strong>do</strong> sua mãe Vetúria contrato convosco de ser esposa vossa: de vós vos<br />

podeis queixar, se nisso há motivo de sentimento, pois vos descui<strong>da</strong>steis em<br />

vir ao dia sinala<strong>do</strong> em que éreis espera<strong>do</strong>. Por o impera<strong>do</strong>r Macrino se deter<br />

depois de aclama<strong>do</strong> em vir a Roma, divertin<strong>do</strong>-se nos festejos de Antioquia,<br />

perdeu o império juntamente com a vi<strong>da</strong>. Se os <strong>do</strong>us varões consulares e<br />

regentes <strong>do</strong> romano império, Maximino e Balbino, chamassem a tempo em seu<br />

favor o exército germano que estava vizinho a Roma contra a insolência <strong>do</strong>s<br />

sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s pretorianos que aclamavam a Heliogabalo, não viriam ambos a<br />

perderem as vi<strong>da</strong>s tão afrontosamente, como conta Herodiano 350 . Se Besso,<br />

quan<strong>do</strong> fugiu a Alexandre, depois de haver aleivosamente morto a seu rei e<br />

senhor Dário, se não detivera na província <strong>do</strong>s bactrianos em banquetes e se<br />

houvera passa<strong>do</strong> à índia com brevi<strong>da</strong>de, não morrera com a ignomínia e<br />

ludíbrio com que foi castiga<strong>do</strong>. Um descui<strong>do</strong> na demora, ain<strong>da</strong> de mui breve<br />

espaço, muitas vezes é a ruína de um império e o verdugo de uma vi<strong>da</strong> de que<br />

estão cheias as crónicas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

Pois se tar<strong>da</strong>stes em chegar, que culpa maior para desmerecer? E<br />

sen<strong>do</strong> deslustre <strong>do</strong> amar qualquer descui<strong>do</strong>, foi o de vossa demora o maior<br />

delito: e assim recebestes a maior pena. Se Laura vos amara, não se mostrara<br />

tão executora <strong>do</strong> castigo; que sabe, quem sabe muito querer, facilmente<br />

per<strong>do</strong>ar; pois o próprio amor, se é ver<strong>da</strong>deiro, contra seu próprio sentimento<br />

alega as desculpas para <strong>da</strong>r o perdão, como escreve Terêncio 351 . Mas como<br />

era em Laura átomo o amor, logo ficou sen<strong>do</strong> gigante o descui<strong>do</strong>. Se pois<br />

Laura vos não amava, para que sentis tanto perdê-la? Amar com extremos a<br />

quem na<strong>da</strong> me paga o querer é sacrificar os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s a quem faz deles<br />

ludíbrio; é empregar os desvelos em um mármore, tributar finezas a um bronze<br />

tão incapaz de pagá-las como de conhecê-las: como conta Célio Rhodiginio de<br />

um mancebo que em Atenas se enamorou de uma estátua de Vénus de<br />

mármore, a quem os juízes areopagitas puseram pena que não chegasse com<br />

muita distância ao lugar em que estava, parecen<strong>do</strong>-lhes justamente nece<strong>da</strong>de<br />

sobre loucura dedicar cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s a uma pedra.<br />

Herodian., Lib. 8.<br />

Terent., in And.

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