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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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686 Padre Mateus Ribeiro<br />

estu<strong>da</strong>sse, falasse ou escrevesse a língua grega, o que tu<strong>do</strong> exactamente se<br />

observou.<br />

Rompeu-se, como disse, o segre<strong>do</strong> sobre o pretendi<strong>do</strong> casamento de<br />

minha irmã com Salviano, e tumultuan<strong>do</strong> logo to<strong>do</strong>s seus parentes, trataram de<br />

dissuadi-lo <strong>do</strong> intento, já com razões, já com ameaços. Porém ven<strong>do</strong> que se<br />

mostrava firme em seu primeiro intento, trouxeram para <strong>da</strong>r nova bataria à sua<br />

constância a Finar<strong>da</strong>, uma ilustre <strong>do</strong>nzela, filha de uma fi<strong>da</strong>lga viúva, igual a<br />

Salviano, se bem pobre nos bens <strong>da</strong> fortuna, moça na i<strong>da</strong>de e discreta no juízo,<br />

mas não que no parecer pudesse ter competências com Estela. A esta<br />

galanteava antiguamente Salviano com pretensões de casamento, de que<br />

adverti<strong>do</strong> por sua mãe e parentes, por ser pobre, se empenhou com minha<br />

irmã, como tenho dito, sem se lembrar de Finar<strong>da</strong>. Porém ven<strong>do</strong> sua mãe o<br />

muito que estava firme em o amor e casamento de Estela, que ela julgava por<br />

tão disforme a quem era, empenhou a Finar<strong>da</strong> a que vin<strong>do</strong> com sua mãe a<br />

visitá-la, visse se podia com to<strong>da</strong>s as veras empenhar a Salviano a que com<br />

ela casasse. Empenhou-se Finar<strong>da</strong>, estimula<strong>da</strong> de ciúmes e juntamente <strong>da</strong><br />

inveja de considerar a Estela mais venturosa e tão senhora <strong>do</strong>s cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s de<br />

Salviano. E entran<strong>do</strong> aonde estava, lhe disse:<br />

- Chegaram já, ó Salviano, minhas mágoas a não poderem encobrir-se<br />

e tuas sem-razões a não poderem tolerar-se. São os agravos para ocultos<br />

penosos e para publica<strong>do</strong>s insofríveis. A pena, enquanto se passa escondi<strong>da</strong>,<br />

será tormento de quem a padece; mas em chegan<strong>do</strong> a publicar-se, é mina que<br />

rebentan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> despenha e a na<strong>da</strong> per<strong>do</strong>a. Dizem-me, Salviano, que te casas<br />

com Estela, a filha de Arnal<strong>do</strong>; mal o crera meu amor, se to<strong>da</strong> a Perúsia o não<br />

dissera; e ain<strong>da</strong> assim imagino que te ofen<strong>do</strong> em o crer, e tu não te pejas de o<br />

intentares. Bem pudera dizer que ou te desconheces <strong>do</strong> que és, ou que<br />

arroja<strong>do</strong> te despenhas <strong>do</strong> que eras; porque arrojo tão indecoroso só pode<br />

desculpar a loucura, por não achar escusas no juízo. Empenhaste-te a amar<br />

fino a quem não te ama. Grande despenho para brioso, maior indecência para<br />

fi<strong>da</strong>lgo, sacrificares finezas a quem não as estimas, pois faz ludíbrios de teus<br />

desvelos, quem an<strong>da</strong> por outro desvela<strong>da</strong>: que como não soube estimar o que<br />

devia à ventura, assim não soube avaliar o muito que a ti te deve. Quem<br />

dissera, Salviano, que teria mais senhorio em teu peito Estela por venturosa

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