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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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754 Padre Mateus Ribeiro<br />

nunca merece nome de ingrata, quem se não sujeitou às leis <strong>da</strong> obrigação.<br />

Além disto, perguntara-vos eu que interesses lhe acumulam vossas finezas?<br />

Que aumentos recebe desses cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s ou que crédito mais subi<strong>do</strong> lhe acresce<br />

de vossas assistências, senão talvez o ser por vossa causa murmura<strong>da</strong> de<br />

juízos que censuram, discursos que condenam a quem em vossos devaneios<br />

não tem culpa?<br />

Dizem que a simpatia natural é o valimento maior e o suborno mais<br />

eficaz no querer, que na primeira lição de uma vista pela oculta conformi<strong>da</strong>de<br />

de estrelas dá bataria aos senti<strong>do</strong>s e golpes ao coração. Porém vós não só<br />

deveis de carecer desta simpatia natural, mas ain<strong>da</strong> pretendeis com<br />

contrarie<strong>da</strong>de discor<strong>da</strong>nte, sen<strong>do</strong> <strong>da</strong> família Tiberta tão odiosa à Martelina. Lá<br />

disse Horácio 654 que os contrários sempre se aborrecem por dissemelhante<br />

antipatia que os desune, como triste e alegres, coléricos e fleumáticos, e assi<br />

nos mais em que a contrarie<strong>da</strong>de desterra to<strong>da</strong> a semelhança e divide to<strong>da</strong> a<br />

união. Lembra-me aquele dito de Públio Mimo 655 que desconfiar <strong>do</strong> inimigo era<br />

conselho seguro, porque de sujeito odioso mal se podem esperar favores. Pois<br />

como pretendeis que Florisela possa persuadir-se que com finezas a amais,<br />

ten<strong>do</strong> tantos motivos para temer que a aborreceis? Como não presumirá que<br />

vossas assistências se dirigem a seu descrédito e não a seu decoro? Como<br />

não receará que vossos passeios repeti<strong>do</strong>s queiram motivar desaires a sua<br />

fama e baixas a seu pun<strong>do</strong>nor? Tão fácil é achar-se no contrário sujeição, no<br />

inimigo rendimento, no aborrecimento amor, no ódio vassalagem, no agravo<br />

afeição e finalmente no odioso agra<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> tantas hostili<strong>da</strong>des passa<strong>da</strong>s<br />

estarão mais presentes na memória que vossas finezas presentes na vista?<br />

Nunca se esquece a mágoa à vista <strong>do</strong> ofensor, porque os olhos<br />

recor<strong>da</strong>m a memória e esta renova a chaga no coração; e aonde imaginais que<br />

com serdes visto granjeais benevolência, originais desamor, fazen<strong>do</strong><br />

porventura que os agravos e sentimentos que o tempo parece ter sepulta<strong>do</strong>s<br />

com o inquieto de vossas assistências ressuscitem. Além disto, que sabeis vós<br />

se Florisela terá em outro sujeito os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s empenha<strong>do</strong>s? Que como o raro<br />

de sua fermosura é de Cesena o aplauso e ain<strong>da</strong> de Itália admira<strong>da</strong> maravilha,<br />

Horace, Lib. 2. Epist.<br />

Publ. Mim.

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