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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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362 Padre Mateus Ribeiro<br />

preço, maiores na estimação, quem jamais as adquiriu senão com moléstias,<br />

suores e trabalhos? Ou quem as chega a possuir tão seguro que não tema<br />

perdê-las quan<strong>do</strong> mais as estima, ou teme serem-lhe rouba<strong>da</strong>s quan<strong>do</strong> mais as<br />

preza? Só quem na vi<strong>da</strong> na<strong>da</strong> possui se livra <strong>do</strong> temor de perder, que como<br />

tu<strong>do</strong> lhe falta para possuí<strong>do</strong>, tu<strong>do</strong> lhe falta para arrisca<strong>do</strong>. Se por receios de ser<br />

despoja<strong>do</strong> <strong>do</strong> que é precioso ninguém tratara de adquiri-lo, to<strong>do</strong>s no mun<strong>do</strong><br />

seriam pobres e nenhum se jactaria de rico: perderiam as cousas seu valor por<br />

faltar quem no que merecem as estimasse e por não se achar quem se<br />

desvelasse em adquiri-las. Tal a fermosura humana: porque há-de atemorizar,<br />

sen<strong>do</strong> tanto para se aplaudir?<br />

Estas mortes vós não as ocasionastes: a defensa <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> é acção<br />

natural; que culpa tem Laura em escolher-vos por esposo, pois a nenhum<br />

estava obriga<strong>da</strong>? Man<strong>do</strong>u-lhes ela porventura sair a desafio por seu respeito?<br />

Se os apartastes e deixastes em paz, bem vos pagavam o favor com<br />

intentarem tirar-vos a vi<strong>da</strong>; se vos casastes com Laura, que agravo lhes<br />

fizestes? Sua era a eleição como senhora livre. O sábio Filipe Macedónio, pai<br />

<strong>do</strong> grande Alexandre, se fez senhor de to<strong>da</strong> Grécia sem perder o título de<br />

sábio, porque <strong>da</strong>n<strong>do</strong> favor aos que o chamavam contra os outros, depois que<br />

os vencia, os sujeitava.<br />

Sentis que fica Laura pobre e só sem vossa presença? Não vos dê isso<br />

cui<strong>da</strong><strong>do</strong>, que não é bastante a pobreza para de suas obrigações descui<strong>da</strong>r-se,<br />

quem tem amor para de seu esposo não esquecer-se. Temer as enfermi<strong>da</strong>des<br />

sem causa é provocar os humores com a força <strong>da</strong> imaginação. Infortuna<strong>da</strong><br />

seria a sorte de um mari<strong>do</strong> que não haja de viver confia<strong>do</strong> na leal<strong>da</strong>de de sua<br />

mulher, ain<strong>da</strong> que esteja ausente. Porque se sempre a ela corre a obrigação de<br />

lhe guar<strong>da</strong>r o devi<strong>do</strong> respeito, também é justo que ele creia que em to<strong>do</strong> o<br />

tempo lho guar<strong>da</strong>.<br />

Dizeis que poderá ser combati<strong>da</strong> por fermosa: também sairá vence<strong>do</strong>ra<br />

por honra<strong>da</strong>. Pouco valem os combates contra o valor, que nem tu<strong>do</strong> o que se<br />

emprende se conquista. Muitos depois <strong>do</strong>s assaltos se retiram venci<strong>do</strong>s, que<br />

as vitórias as aclama o valor e não a porfia. Dez mil atenienses desbarataram a<br />

seiscentos mil persianos em Maratona, que onde parecia tão infalível a vitória,<br />

veio a ser tão irreparável o destroço. Quem vos escolheu por esposo não foi<br />

para ofender-vos, senão para estimar-vos mais. Sempre a nobreza e luzimento

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