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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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140 Padre Mateus Ribeiro<br />

tanta parte na privança <strong>do</strong> monarca que to<strong>do</strong>s o admiravam e invejavam e<br />

to<strong>do</strong>s, quan<strong>do</strong> mais segura parecia sua privança, foram mortos e em seu<br />

próprio sangue banha<strong>do</strong>s? Quem mais priva<strong>do</strong> <strong>do</strong> empera<strong>do</strong>r Tibério que Élio<br />

Sejano? Quem mais aceito a Cómo<strong>do</strong> que Cleandro? E to<strong>do</strong>s por man<strong>da</strong><strong>do</strong> de<br />

seus príncipes foram violentamente mortos, quan<strong>do</strong> mais poderosos se<br />

julgavam, quan<strong>do</strong> maior duração se prometiam. Não há privança sem inveja,<br />

nem se dá inveja sem perigo, e sen<strong>do</strong> as vontades <strong>do</strong>s príncipes mudáveis,<br />

como humanas, engano manifesto é querer estabelecer e perpetuar edifício<br />

seguro, quan<strong>do</strong> é tão sujeito a mu<strong>da</strong>r-se o fun<strong>da</strong>mento.<br />

Enfim tornan<strong>do</strong> à história, o nosso priva<strong>do</strong> foi falsamente por invejosos<br />

acusa<strong>do</strong> ao rei que o favorecia de que com ambições <strong>da</strong> coroa e ceptro<br />

maquinava desleal<strong>da</strong>des contra sua vi<strong>da</strong>, acrescentan<strong>do</strong> que se queria com<br />

facili<strong>da</strong>de alcançar manifesto conhecimento de seus intentos, lhe dissesse<br />

fingi<strong>da</strong>mente que determinava renunciar os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s e contínuos desvelos <strong>do</strong><br />

governo <strong>do</strong> reino e retirar-se a viver solitário em o deserto, ao mo<strong>do</strong> que os<br />

monges cristãos, a quem ele persegui<strong>do</strong> tinha, viviam com hábito humilde e<br />

pobre em vi<strong>da</strong> abstinente e solitária; e que notasse a resposta que ele lhe<br />

<strong>da</strong>va, que logo suas palavras mostrariam seus interiores pensamentos. Assim<br />

o fez el-rei desejoso de inteirar-se se esta acusação era ver<strong>da</strong>deira ou<br />

fingimento; e como o priva<strong>do</strong> estava ignorante <strong>do</strong> engano, com lágrimas de<br />

alegria que chorava, lhe aprovou a resolução por acerta<strong>da</strong> e louvou o intento<br />

por justo. Indignou-se el-rei, não com palavras, mas com a mu<strong>da</strong>nça <strong>do</strong><br />

aspecto: que sen<strong>do</strong> o rosto, como disse Plínio 189 , mostra<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s afectos <strong>da</strong><br />

alma e janela de seus mais íntimos movimentos, como lhe chamou Marco<br />

Túlio 190 , não é maravilha que, sen<strong>do</strong> o priva<strong>do</strong> discreto, logo de sua vista<br />

viesse no conhecimento <strong>da</strong> grande ira e paixão que no peito encerrava, que<br />

muitas vezes o silêncio <strong>do</strong>s príncipes é voz que fala, e não língua que<br />

emudece.<br />

Ausentou-se o rei de sua presença, deixan<strong>do</strong>-o intimi<strong>da</strong><strong>do</strong>, consideran<strong>do</strong><br />

as tempestades que lhe pronosticava o pesa<strong>do</strong> e melancólico aspecto de seu<br />

reconcentra<strong>do</strong> furor; e assim triste e pensativo foi a tomar conselho com o<br />

Sen., Lib. 11.<br />

Cicer., De petit Cons.

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