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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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364 Padre Mateus Ribeiro<br />

- Assim o conce<strong>do</strong> (lhe disse eu) e mais quan<strong>do</strong> tenho em vós tão<br />

ver<strong>da</strong>deiro amigo e tão participante em meus pesares, em que, como bem diz<br />

Cícero 363 , só a ver<strong>da</strong>deira amizade se prova; e é a descrição que lhe dá o<br />

filósofo 364 tratan<strong>do</strong> <strong>da</strong> amizade ver<strong>da</strong>deira.<br />

Com vários discursos chegámos a Florença, a casa <strong>do</strong> conde Hipólito,<br />

que se mostrou pesaroso <strong>do</strong> sucesso, assim por respeito nosso, como por<br />

termos no marquês Valeriano tão poderoso contrário. Man<strong>do</strong>u logo ordem para<br />

que Laura com sua mãe viesse, que em breves dias chegaram, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> novas<br />

como ficava sequestra<strong>da</strong> to<strong>da</strong> a fazen<strong>da</strong> e nós culpa<strong>do</strong>s nas rigorosas<br />

devassas, que como nelas juraram os que na companhia <strong>do</strong>s mortos vinham,<br />

lançaram-nos a culpa que eles tinham; porque contra o persegui<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s se<br />

põem <strong>da</strong> parte <strong>da</strong> fortuna. E porque o <strong>caso</strong> estava tão fresco, as partes<br />

poderosas e nós em Florença, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> ordem o conde a se recolherem Laura e<br />

sua mãe em um convento em que ele tinha parentas religiosas, e que também<br />

ain<strong>da</strong> o eram de Laura, até ver o que o tempo dispunha, eu e Alexandre nos<br />

resolvemos a ir servir nas guerras de Alemanha ao empera<strong>do</strong>r, até ver o que o<br />

tempo com seu discurso vagaroso obrava; que muitas vezes cura o de que as<br />

esperanças desconfiam. É o tempo remédio que alivia os sentimentos com<br />

esquecer as ofensas; que como a memória não possa estar sempre fixa em um<br />

objecto, com a continuação de ver uns se vão pouco a pouco apagan<strong>do</strong> nela as<br />

imagens <strong>do</strong>s outros; que assim disse Santo Agostinho 365 que o esquecimento<br />

não se causa de repente, mas com vagares. Porque sen<strong>do</strong> este, como lhe<br />

chamou Aristóteles 366 , uma nuvem que encobre as espécies e representações<br />

que imprimiram os senti<strong>do</strong>s, tempo é necessário para encobrir-se e dilata<strong>do</strong>s<br />

desmaios <strong>do</strong> divertimento para apagar-se.<br />

Cap. XXVII.<br />

Como partimos de Florença e <strong>do</strong> sucesso que tivemos<br />

363 Cicer., Ad Heren.<br />

364 Arist., Rhetor. 2.<br />

365 D. Aug., Lib. 6. Music, cap. 4.<br />

366 Arist., Topic. 3.

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