17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

40 A novela portuguesa no século XVII:<br />

posteriormente aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong> por Roberto, apresenta<strong>da</strong> como exemplo <strong>do</strong><br />

castigo correspondente à levian<strong>da</strong>de feminina:<br />

"Deu crédito a suas palavras a pouco experimenta<strong>da</strong> Eugenia (que assim se<br />

chamava) e sain<strong>do</strong> de casa de sua mãe, que o amor lhe fazia deixar, ausentan<strong>do</strong>-se<br />

de sua vista e companhia segura, que pela duvi<strong>do</strong>sa de seu amante trocava,<br />

caminhan<strong>do</strong> com ele alguma jorna<strong>da</strong>, desvian<strong>do</strong>-se sempre <strong>da</strong>s estra<strong>da</strong>s e<br />

emboscan<strong>do</strong>-se a maior parte <strong>do</strong> dia no oculto <strong>do</strong>s bosques e silvas mais espessas,<br />

chegaram a Serra Morena, cujas montanhas parece que dão atrevimento aos maiores<br />

insultos; ele, que já sobre o título de esposo, que cautelosamente tomava, tinha<br />

logra<strong>do</strong> as pren<strong>da</strong>s de sua fermosura, com ânimo bárbaro, acção indigna de peito<br />

humano quan<strong>do</strong> mais bem nasci<strong>do</strong>, despojou-a de seus ricos vesti<strong>do</strong>s e jóias, e<br />

deixan<strong>do</strong>-a naquele solitário ermo se ausentou de sua vista; castigo mereci<strong>do</strong> de sua<br />

livian<strong>da</strong>de, pois deixava a casa de sua mãe indiscretamente para seguir a um<br />

forasteiro, a quem amor a inclinou, para percter-se." 61<br />

Se a inexperiência nos assuntos de amor ocasiona a desonra <strong>da</strong>s<br />

<strong>do</strong>nzelas mais incautas, outro factor que pode igualmente condicionar o<br />

sucesso <strong>do</strong> galanteio é a desigual<strong>da</strong>de de esta<strong>do</strong> entre os amantes, constante<br />

preocupação <strong>da</strong>s <strong>do</strong>nzelas:<br />

" Vós mesmo, que hoje me lisonjeais de fermosa, amanhã arrependi<strong>do</strong> me aborreceis<br />

desengana<strong>do</strong>, ven<strong>do</strong> que comigo cortastes as melhoras que pudéreis conseguir, se<br />

prudente escolhêsseis o que precipita<strong>do</strong> seguis. Atendei mais considera<strong>do</strong> que para<br />

vós solicitais arrependimento sem fruto, para mim moléstias sem remédio, para vossos<br />

pais eterno sentimento e para os meus inquietações sem reparo; porque de um<br />

casamento desigual to<strong>do</strong>s ficam descontentes, to<strong>do</strong>s pesarosos e to<strong>do</strong>s<br />

desterra<strong>do</strong>s." 62<br />

Os casamentos desiguais 63 , ocasiona<strong>do</strong>s muitas vezes pela bizarra<br />

formosura feminina que cativa o jovem fi<strong>da</strong>lgo, são aponta<strong>do</strong>s como causa de<br />

Mateus RIBEIRO, Alivio de tristes e consolação de queixosos, Parte I, p.197.<br />

62 Mateus RIBEIRO, Alivio de tristes e consolação de queixosos, Parte III, p.406.<br />

63 A insistente preocupação com a igual<strong>da</strong>de de riqueza <strong>do</strong>s amantes como condição<br />

necessária para o casamento (ain<strong>da</strong> que se apresentem exemplos em contrário quan<strong>do</strong> a<br />

situação inferior de um <strong>do</strong>s elementos o solicite), está patente em muitos <strong>do</strong>s trata<strong>do</strong>s sobre<br />

esta matéria. Veja-se a este propósito, O casamento perfeito, de Diogo de Paiva de<br />

ANDRADA, notas de Fidelino de Figueire<strong>do</strong>, Lisboa, Livraria Sá <strong>da</strong> Costa, 1944, max. cap. Il -<br />

"Que sejam os casa<strong>do</strong>s de igual quali<strong>da</strong>de", pp.4-10; V. D. Francisco Manuel de MELO, Carta

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!