17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

1040 Padre Mateus Ribeiro<br />

Este sentimento e mágoa que hoje vos oprime porventura que em breve<br />

tempo <strong>da</strong>rá assaltos penosos a vosso competi<strong>do</strong>r, que ninguém tem a ventura<br />

tão propícia que possa evitar com segurança os motivos de to<strong>do</strong>s os<br />

desgostos. Se Doroteia quis disfarçar a mu<strong>da</strong>nça com o rebuço de ofendi<strong>da</strong> e,<br />

por não ter desculpas que <strong>da</strong>r ao justo de vossa queixa, fechou as portas a<br />

ouvir-vos para que quem a julgar tão desabri<strong>da</strong> na reclusão a avalie por<br />

justamente agrava<strong>da</strong>, pon<strong>do</strong> em dúvi<strong>da</strong>s o juízo de quem quiser discursar a<br />

queixa, ven<strong>do</strong>-a a ela senti<strong>da</strong> e a vós queixoso, sabei adverti<strong>do</strong> perseverardes<br />

na queixa <strong>da</strong> ingratidão, e ficará a sentença <strong>do</strong> melhor juízo por vossa parte<br />

justifica<strong>da</strong>. Que maior vingança desejais de Hortênsio que empenhar-se em<br />

querer a quem faz <strong>do</strong> querer tão débil estimação? E que quan<strong>do</strong> presuma que<br />

tem avança<strong>do</strong> ao maior voo, achar as asas sem penas e as penas juntas na<br />

alma, não para com elas voar, mas só para to<strong>da</strong>s as sentir?<br />

Vinde, amigo, para Cesena, e dela como de empório seguro vereis a<br />

tormenta que outros padecem no mar proceloso de que vos livrastes: deixai<br />

que outro navegue o tormentoso <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça, que outro sulque os golfos <strong>da</strong><br />

ingratidão, que vós tereis companhia no sentir assim como a tivestes no querer.<br />

Este, Bonifácio, é o remédio mais eficaz de vossos desgostos: pordes terra de<br />

permeio <strong>da</strong> mágoa que sentis, que como não virdes a causa, logo terá<br />

interstícios a <strong>do</strong>r, riscar-se-á <strong>da</strong> memória o penoso; e com a mu<strong>da</strong>nça <strong>do</strong>s ares<br />

e <strong>do</strong> sítio fará mu<strong>da</strong>nça a memória para esquecer <strong>da</strong> ingratidão, porque<br />

enquanto a lembrança com o objecto <strong>do</strong> agravo presente vive mal pode o<br />

coração isentar-se de padecer. Tem Cesena os ares mais saudáveis, os<br />

horizontes alegres, nobres edifícios, os ci<strong>da</strong>dãos ricos e discretos e hoje em<br />

amizade concordes, que é <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des o maior bem, como ensina<br />

Aristóteles 1139 , sen<strong>do</strong>, como diz Plauto 1140 , as ci<strong>da</strong>des tanto mais defensáveis<br />

quanto a união e costumes de seus habita<strong>do</strong>res são melhores. Ali, com a<br />

conversação <strong>do</strong>s mais discretos, que como diz Séneca 1141 são os que devem<br />

procurar-se, divertireis os pesares, suspendereis os desgostos, ouvin<strong>do</strong> talvez<br />

Arist., Pol. 2.<br />

Plaut., in Pers.<br />

Senec, Epist. 57.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!