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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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516 Padre Mateus Ribeiro<br />

clara de Deus, em quem como em centro pára. E como to<strong>da</strong>s as cousas para<br />

se apartarem de seu próprio centro, padecem violência, assim se (por<br />

impossível) pudesse um bem-aventura<strong>do</strong> ser aparta<strong>do</strong> <strong>do</strong> sumo bem, que é<br />

Deus nosso senhor, se queixara e suspirara enterneci<strong>da</strong>mente de se ver<br />

aparta<strong>do</strong> de seu único e cabal centro em que só descansa. Além disto é o Céu<br />

nossa própria pátria e o mun<strong>do</strong> desterro, como ensinam os santos padres; e<br />

sen<strong>do</strong> a pátria tão amável, como diz Cícero 505 , quem deixaria a pátria pelo<br />

desterro dela? To<strong>da</strong> a privação <strong>da</strong> pátria, diz Santo Agostinho 506 , é penosa,<br />

sen<strong>do</strong> os ares <strong>da</strong> pátria tanto naturalmente agradáveis, quanto tem os <strong>da</strong><br />

ausência dela de aborreci<strong>do</strong>s; como logo se havia de deixar o Céu, sen<strong>do</strong><br />

nossa pátria, em que juntos se cifram to<strong>do</strong>s os bens, para buscar o mun<strong>do</strong>,<br />

onde tu<strong>do</strong> falta?<br />

Quem deixa a pátria ou é violenta<strong>do</strong>, ou temeroso, ou ambicioso de<br />

riquezas e honras, ou curioso de ver novas terras e conhecer vários climas. No<br />

Céu, nem pode <strong>da</strong>r-se violência, nem temor, nem necessi<strong>da</strong>de, nem ambição,<br />

nem ignorância. Porque tu<strong>do</strong> é perfeitíssima paz, concórdia e amor; tu<strong>do</strong><br />

possui e logra quanto o desejo desvelar-se podia; tu<strong>do</strong> perfeitissimamente sabe<br />

e em Deus, como em espelho de infinita luz, como lhe chama a Sagra<strong>da</strong><br />

Escritura na Sabe<strong>do</strong>ria 507 , conhece tu<strong>do</strong> quanto conforme a capaci<strong>da</strong>de de<br />

seus merecimentos conhecer, entender e ver pode; como logo, sen<strong>do</strong> a Ci<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> Glória nossa pátria, como lhe chama o grande padre São Basílio 508 , e<br />

logran<strong>do</strong> nela um bem-aventura<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os bens, poderia jamais ausentar-se<br />

dela?<br />

Que o contínuo e eterniza<strong>do</strong> <strong>do</strong>s gostos e delícias que no Céu se logram<br />

não possam jamais enfastiar o gosto; porque, como diz Santo Agostinho 509 , a<br />

fermosura infinita de Deus sem fim se logra, sem fastio se ama e sem trabalho<br />

se louva, porque fora <strong>da</strong> Glória não há cousa que se deseje e dentro <strong>da</strong> Glória<br />

na<strong>da</strong> se pode <strong>da</strong>r que enfastie. Se nas festas desta nossa mortal vi<strong>da</strong> chegam<br />

505 Cicer.<br />

506 Santo Aug.<br />

507 Sapient.<br />

508 S. Basil.<br />

509 Santo Aug.

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