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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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690 Padre Mateus Ribeiro<br />

vivíamos, quan<strong>do</strong> um dia apareceu em Balena Salviano com seus cria<strong>do</strong>s, a<br />

título de vir à caça, hospe<strong>da</strong>n<strong>do</strong>-se em casa de um seu amigo, que nunca aos<br />

ricos e poderosos faltam em to<strong>da</strong> a parte hospe<strong>da</strong>gens. Apenas tivemos notícia<br />

de sua vin<strong>da</strong>, quan<strong>do</strong> Estela, fecha<strong>da</strong>s as janelas, cortou as ocasiões de poder<br />

ser dele vista, pagan<strong>do</strong> em lágrimas seus olhos tributo a seu tão vivo agravo.<br />

Desvelava-se ele com passeios, que Estela contraminava com recatos,<br />

queren<strong>do</strong> tomar discreta vingança de sua mu<strong>da</strong>nça com se retirar sem permitir<br />

ser dele vista, já que desagravar o sentimento em outra ocasião não podia.<br />

- Oh tirania grande <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> (dizia ela choran<strong>do</strong>), que não baste a uma<br />

infelice o ver-se ofendi<strong>da</strong>, sem ser de novo persegui<strong>da</strong> e molesta<strong>da</strong>! Oh<br />

injustiça grande <strong>do</strong> poder, que não valha aos pequenos, sobre receberem a<br />

ofensa, desterrarem-se <strong>da</strong> pátria em que nasceram de senti<strong>do</strong>s, senão que de<br />

novo os venham provocar a magoa<strong>do</strong>s sobre tais agravos recebi<strong>do</strong>s! Não<br />

basta que os desvali<strong>do</strong>s dissimulem a ofensa, para que a não sintam <strong>do</strong>bra<strong>da</strong>?<br />

Que quer Salviano nesta terra? Se verme, é desaforo, e se <strong>do</strong>brar-me a pena,<br />

tirania.<br />

Assim se queixava Estela, de que to<strong>do</strong>s andávamos senti<strong>do</strong>s, cortan<strong>do</strong><br />

as ocasiões de [nos] encontramos com ele.<br />

Tinha eu saí<strong>do</strong> de casa ante manhã, a uma jorna<strong>da</strong> que fazia <strong>da</strong>í a duas<br />

léguas, e deixei as portas <strong>da</strong> casa cerra<strong>da</strong>s uma sobre a outra. Sucedeu pois<br />

que um famoso ban<strong>do</strong>leiro, assombro de Itália e terror de Europa, que se<br />

chamava Cursieto Sambuco, cruel, arroja<strong>do</strong> e temerário homem, a cuja fama<br />

de seu valor e insolência perdiam o nome o antigo Nar<strong>do</strong> António de Nápoles,<br />

Serralonga de Catalunha, capitão de duzentos ban<strong>do</strong>leiros, to<strong>do</strong>s tão<br />

criminosos e atrevi<strong>do</strong>s como sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s de tal capitão e discípulos imita<strong>do</strong>res de<br />

tal mestre, viesse a Balena, antes que rompesse a manhã, para matar a<br />

Salviano, de quem por espias sabia a casa aonde estava hospe<strong>da</strong><strong>do</strong>. A causa<br />

que se divulgou para querer <strong>da</strong>r-lhe morte, sen<strong>do</strong> assim que gente tão<br />

habitua<strong>da</strong> a homicídios e delitos não necessita de causa, ten<strong>do</strong> por costume<br />

derramar sangue e ser escân<strong>da</strong>lo <strong>da</strong>s vi<strong>da</strong>s, foi dizer-se que Salviano com<br />

seus tios tinham escrito a Roma contra Cursieto Sambuco, fazen<strong>do</strong> queixosas<br />

relações <strong>do</strong>s inumeráveis <strong>da</strong>nos que nas terras <strong>do</strong> senhorio <strong>da</strong> Igreja havia<br />

feito, e pedin<strong>do</strong> se apressasse o remédio para delas os afugentarem, antes que

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