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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte V 741<br />

sofri<strong>da</strong>s, temerosas para imagina<strong>da</strong>s; e assi conhecen<strong>do</strong> o descanso (ain<strong>da</strong><br />

que tarde), só tinham a mágoa de o não adquirirem mais ce<strong>do</strong>. Tar<strong>do</strong>u em<br />

desenganá-los o tempo, porque em sua academia não se tem sem castigo os<br />

desenganos, e por isso fica a lição tão decora<strong>da</strong>, porque o tempo só<br />

castigan<strong>do</strong> ensina. É a punição, como diz Cícero 617 , eficaz meio para o ensino<br />

ser proveitoso; e as calami<strong>da</strong>des padeci<strong>da</strong>s, diz Santo Agostinho 618 , são<br />

remédios para se desestimar o arrisca<strong>do</strong> e se procurar o seguro.<br />

Consideran<strong>do</strong> discretamente na recor<strong>da</strong>ção de seus passa<strong>do</strong>s<br />

desgostos como tu<strong>do</strong> na vi<strong>da</strong> era aparente, breve na duração, frágil na posse,<br />

fugitivo no ser, sombra na ventura, relâmpago no altivo, obelisco que arruina,<br />

on<strong>da</strong> que impeli<strong>da</strong> <strong>do</strong> vento nas areias espumosa quebra. Com razão se ria<br />

Diógenes <strong>da</strong>s ambições de Alexandre, sen<strong>do</strong> <strong>do</strong>us pólos entre si os mais<br />

distantes: um que <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> na<strong>da</strong> queria e outro que conquistar o mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong><br />

procurava; e vemos que Diógenes viveu em seu retiro contente até o decrépito<br />

<strong>da</strong> i<strong>da</strong>de e Alexandre deixou em Babilónia a vi<strong>da</strong> na flor <strong>do</strong>s anos. Eram os<br />

ermitães vistos na lições <strong>do</strong>s livros, nas histórias <strong>da</strong>s monarquias <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />

presentes nas humani<strong>da</strong>des, e assi passavam a vi<strong>da</strong> em discreta conversação,<br />

que é, como disse Séneca 619 , a iguaria com que ao temporal a alma se<br />

alimenta. Umas vezes discursavam na diferença que vai <strong>do</strong> temporal ao eterno,<br />

<strong>do</strong> transitório ao permanente, <strong>do</strong> mortal ao imortal, <strong>do</strong> caduco ao perdurável;<br />

outras vezes discorren<strong>do</strong> pelas histórias <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, ponderavam o mal que<br />

paga os méritos a quem os segue: tantos queixosos <strong>da</strong> ingratidão tão mal<br />

remunera<strong>do</strong>s, tantos desvela<strong>do</strong>s por ambição sem proveito arrependi<strong>do</strong>s,<br />

tantos despenha<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s esperanças com que voavam, e finalmente ser, como<br />

diz Santo Agostinho 620 , o mun<strong>do</strong> inimigo de quem o busca e contrário <strong>do</strong>s<br />

mesmos a quem levanta. É o mun<strong>do</strong> amargosa bebi<strong>da</strong> <strong>da</strong> ambição, prodígio<br />

dispenseiro <strong>da</strong> fortuna, para uns excessivo nas dádivas, para outros avaro nos<br />

favores, e no fim a to<strong>do</strong>s desengano, se soubessem dele desenganar-se to<strong>do</strong>s.<br />

7 Cicer., Pro Roscio.<br />

8 S.Aug., Lib. Conf.<br />

9 Senec, Ep. 75.<br />

0 S. Aug., Ser. 81. De temp.

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