17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

408 Padre Mateus Ribeiro<br />

escu<strong>do</strong> <strong>da</strong> discrição para resistir-vos; se bem me parece que nunca amou<br />

deveras quem ajuíza tão prudente. Pinta-se o amor cego porque em na<strong>da</strong><br />

repara, o menos que tem é de discreto e o muito que tem é de arroja<strong>do</strong>: assim<br />

o escreve Propércio e o mostra a experiência. Pelo que posso considerar em<br />

Amatilde que porventura nasce de falta de amor tanta sobra no juízo.<br />

Oferecestes-vos por seu esposo, que era o requinta<strong>do</strong> <strong>da</strong>s finezas e o auge a<br />

que podia subir vosso querer; vós resolvestes como quem amava e ela reparou<br />

como quem entendia.<br />

Um <strong>do</strong>s conselhos de Diógenes em escolher mulher era a igual<strong>da</strong>de,<br />

que nunca de desigual<strong>da</strong>des se seguem acertos. Não sempre a fermosura<br />

acha desculpas para entendi<strong>do</strong>s, que como é bem que uma enfermi<strong>da</strong>de<br />

facilmente deslustra, o tempo gasta, a i<strong>da</strong>de murcha e a continuação de ser<br />

vista diminui na estimação, pouco tem de desculpar-se quem só pela beleza<br />

chega a mover-se. Casou o segun<strong>do</strong> Constantino, empera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Oriente, com<br />

Teo<strong>do</strong>ra por fermosa, haven<strong>do</strong> si<strong>do</strong> cria<strong>da</strong> de sua primeira mulher, a<br />

emperatriz, e de to<strong>do</strong>s foi reprova<strong>do</strong> tão desigual casamento que celebrou com<br />

Roxanes, com ser prodígio <strong>da</strong> fermosura <strong>da</strong>quela i<strong>da</strong>de; porque a tão soberano<br />

monarca não condiziam bo<strong>da</strong>s tão indecentes, como diz Quinto Cúrcio; e<br />

porventura não foi esta a menor cousa <strong>da</strong>s conjurações que os macedónios<br />

contra Alexandre intentaram, <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-se por afronta<strong>do</strong>s de que lhes intentasse<br />

<strong>da</strong>r sucessor no império que fosse filho de tão humilde mãe: menor obrigação<br />

parece deverem os filhos <strong>da</strong>s pessoas ilustres em casamentos desiguais a<br />

seus pais, fican<strong>do</strong> em dívi<strong>da</strong>s <strong>do</strong>bra<strong>da</strong>s a suas mães: a elas porque lhes<br />

souberam <strong>da</strong>r tão honra<strong>do</strong>s pais e a eles menos obriga<strong>do</strong>s porque não<br />

repararam em <strong>da</strong>r-lhes tão humildes mães. Discreta foi a resposta que deu<br />

Menentheu Ateniense, que sen<strong>do</strong> filho <strong>da</strong> filha d'el-rei de Trácia, que fugin<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> reino se <strong>caso</strong>u a furto com seu pai, e pergunta<strong>do</strong> a quem maiores<br />

obrigações devia, respondeu que a sua mãe, porque esta lhe soube <strong>da</strong>r pai<br />

ateniense, que era naquele tempo a política <strong>da</strong>s repúblicas, e seu pai sen<strong>do</strong> tal<br />

o fizera nascer bárbaro por sua mãe.<br />

Se pois tão desiguais casamentos nem acham desculpas no amor, nem<br />

escusas na fermosura, porque os juízos como livres julgam desapaixona<strong>do</strong>s,<br />

como vos livrareis <strong>da</strong> censura <strong>do</strong>s discretos se, despois de tantos anos de<br />

estu<strong>do</strong> em que despendestes o mais flori<strong>do</strong> tempo <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de, quan<strong>do</strong> pudéreis

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!