17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Alivio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 945<br />

com que os perseguiria enquanto vivessem; e assim com este retiro nem<br />

mostravam ofenderem a um, nem agravarem a outro, pois não publicaram a<br />

causa por respeitarem a vossa excelência e guar<strong>da</strong>rem a sua filha a candura<br />

<strong>da</strong> fama, que, como diz Séneca 953 , se arruina muitas vezes nos juízos mais<br />

com uma publici<strong>da</strong>de rumorosa <strong>do</strong> que com um desaire oculto. A notorie<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> fama mais é verdugo que executa <strong>do</strong> que juiz que sentencia; e a razão é<br />

porque o juiz não excede <strong>do</strong> que se prova e a fama muitas vezes pode<br />

vulgarizar o que se não comete, como diz Ovídio 954 . Assim que os pais de<br />

Fenisa an<strong>da</strong>ram mui prudentes em se retirarem a Bolonha, porque a vossa<br />

excelência o decoro devi<strong>do</strong> observaram e a sua filha asseguraram a fama.<br />

No intento que vossa excelência traz de ir disfarça<strong>do</strong> a Bolonha, pudera<br />

dizer que é temeri<strong>da</strong>de de quem ama e não acerto de quem discursa, porque<br />

seria divulgar-se sem fruto o que até agora ninguém chega a presumir. Sem<br />

fruto, digo, porque a vontade de Fenisa em qualquer lugar é livre, e quem tão<br />

senhora dela se mostrou em Módena, parece que muito mais o mostrará em<br />

Bolonha. Nem se pode confiar que a mu<strong>da</strong>nça <strong>do</strong>s ares fizessem em sua<br />

vontade mu<strong>da</strong>nça, porque as mulheres <strong>da</strong>quela quali<strong>da</strong>de e pren<strong>da</strong>s nem pelo<br />

nome chegam a conhecer que cousa seja mu<strong>da</strong>nça. São as mulheres que<br />

nascem com tantas obrigações, como Fenisa, <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> monte Olimpo<br />

de Grécia, que nem chuvas, nem nuvens, nem ventos se atrevem a inquietar o<br />

culminante de sua eminência. Correm os anos, terminam-se os séculos,<br />

passam os lustros e o Olimpo no próprio esta<strong>do</strong> permanece. Querer perseverar<br />

contra os desenganos conheci<strong>do</strong>s é mais que porfiar contra a água e contra o<br />

vento e sobretu<strong>do</strong> contra os desaires <strong>da</strong> ventura, que é a mais arrisca<strong>da</strong><br />

navegação, pois dela mais se podem temer naufrágios <strong>do</strong> que prometer-se<br />

bonanças. Enganar a uma esperança pode talvez servir de epítima saudável a<br />

um coração atormenta<strong>do</strong> com o desengano de um desejo; porém nesta<br />

empresa de Fenisa nunca pode enganar-se a esperança, pois no primeiro<br />

crepúsculo de seu nascimento morreu de desengana<strong>da</strong>, espirou de<br />

desfaleci<strong>da</strong>. A vi<strong>da</strong> de uma pretensão é a esperança em que se alimenta,<br />

Senec, Epist. 14.<br />

Ovid., Met. 9.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!