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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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934 Padre Mateus Ribeiro<br />

costumam casar a seus filhos com vassalas de seu senhorio, por não<br />

reconhecerem por iguais a quem a fortuna com eles não igualou.<br />

Uma <strong>da</strong>s culpas que os sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s e cabos <strong>do</strong>s macedónios <strong>da</strong>vam ao<br />

grande Alexandre foi que haven<strong>do</strong> rejeita<strong>do</strong> o casamento que el-rei Dário lhe<br />

oferecera com a princesa sua filha com inestimável <strong>do</strong>te, viesse depois a<br />

receber por mulher a Roxanes por fermosa, uma moça persiana vassala sua,<br />

pois era <strong>da</strong>r-lhe superiori<strong>da</strong>de e man<strong>do</strong> sobre to<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> ela e seus pais<br />

persianos e vassalos. Com que fun<strong>da</strong>mento Raimun<strong>do</strong> se oferecia para ser teu<br />

esposo, senão para depois aborrecer-te? O caminhante que nos ar<strong>do</strong>res <strong>do</strong> sol<br />

e no mais calmoso <strong>do</strong> dia ou pelo campo mais seco, ou areal mais estéril,<br />

abrasa<strong>do</strong> com os raios <strong>do</strong> sol an<strong>da</strong> investigan<strong>do</strong> com o desejo descobrir<br />

alguma fonte em que sequioso e anelante refrigere a sede, respire <strong>do</strong> cansaço,<br />

socorra o coração com a epítima <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> cristal que apetece, apenas<br />

descobriu a fonte para logro de seu desejo, alívio de seu cansaço, refrigério de<br />

sua pena, quan<strong>do</strong> em satisfazen<strong>do</strong> a sede que o molestava, voltan<strong>do</strong> as costas<br />

à fonte por quem tanto suspirava antes de possuí<strong>da</strong>, continua a jorna<strong>da</strong> não se<br />

lembran<strong>do</strong> mais <strong>da</strong> fonte como se a não vira. Além disto, quem nos livraria <strong>da</strong>s<br />

iras <strong>do</strong> duque, seu pai, de quem somos vassalos, nem em Módena, nem em<br />

to<strong>do</strong> o seu dilata<strong>do</strong> senhorio? Ain<strong>da</strong> fora dele em qualquer parte ficaríamos<br />

arrisca<strong>do</strong>s, que os príncipes soberanos tem os braços mui dilata<strong>do</strong>s para<br />

poderem alcançar com eles aonde procuram. Nem tu viverias com Raimun<strong>do</strong><br />

quieta, antes sempre desterra<strong>da</strong> e em qualquer parte com sustos, eu e teus<br />

irmãos sem sossego e <strong>do</strong> duque aborreci<strong>do</strong>s, as ren<strong>da</strong>s sequestra<strong>da</strong>s e a<br />

minha casa perdi<strong>da</strong>.<br />

Nunca o excessivo assegurou a duração, nem quem promete as<br />

venturas pode alcançar perseveranças, porque o prometê-las é fácil, mas o<br />

aboná-las difícil. Para eu <strong>da</strong>r notícias ao duque <strong>da</strong>s inquietações de seu filho é<br />

diligência arrisca<strong>da</strong>, porque pouco se satisfazem os pais de ouvirem queixas de<br />

seus filhos, e será malquistar-me com o filho e não admitir a graça de seu pai.<br />

É Raimun<strong>do</strong> mancebo, e para ser repreendi<strong>do</strong> de seu pai levará agramente as<br />

censuras e quererá desagravar-se em quem deu o motivo à queixa e à<br />

repreensão; e com os príncipes há-de proceder-se com uma cautela muito<br />

respeitosa, com que de seus vassalos se querem trata<strong>do</strong>s. Arrisca-se no falar e<br />

no silêncio, e entre <strong>do</strong>us extremos <strong>do</strong> perigo não é fácil escolher um meio que

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