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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte IV 659<br />

que era Zelin<strong>da</strong> muito superior à sua fama na beleza e prodigiosa admiração<br />

de Trácia na fermosura, que desse dia em diante se esqueceu de si mesmo,<br />

para empregar nela o vivo <strong>da</strong>s memórias com que na imagem que na alma<br />

estampa<strong>da</strong> tinha se revia. Pediu a seu pai com encareci<strong>do</strong>s extremos lha<br />

pedisse por esposa. E porque o pai tinha sabi<strong>do</strong> quanto Zelin<strong>da</strong> era resoluta<br />

em não admitir casamento, e a presença de Sultão levava consigo o despacho<br />

de rejeitar-se, valeu-se de Sinão, que era o primeiro vizir de Constantinopla, e<br />

to<strong>do</strong> o valimento de Amurathes, em quem ele descansava o grande peso de<br />

tão agiganta<strong>da</strong> monarquia. Era Sinão quem dispunha to<strong>do</strong> o governo <strong>do</strong><br />

império otomano, pon<strong>do</strong> e removen<strong>do</strong> governa<strong>do</strong>res <strong>da</strong>s províncias a seu<br />

arbítrio, generais <strong>do</strong> exército e arma<strong>da</strong>s, e to<strong>do</strong>s os cargos de paz e guerra<br />

com absoluto poder que Amurathes lhe havia concedi<strong>do</strong>.<br />

Falou pois Sinão a Zulema sobre o casamento de Zelin<strong>da</strong> com o filho de<br />

Hebraim, dizen<strong>do</strong>-lhe levaria gosto de que se efectuasse. Viu-se Zulema<br />

confuso com a proposta <strong>do</strong> vali<strong>do</strong>, conhecen<strong>do</strong> <strong>da</strong> condição de Zelin<strong>da</strong> que em<br />

nenhum mo<strong>do</strong> aceitaria tal casamento. E ven<strong>do</strong> tão empenha<strong>do</strong> ao vali<strong>do</strong>, que<br />

temia ficar com ele odia<strong>do</strong>; porque é tal a soberba <strong>do</strong>s turcos quan<strong>do</strong> se vem<br />

no valimento <strong>do</strong> monarca que afectam não só o serem obedeci<strong>do</strong>s, mas como<br />

bárbaros a<strong>do</strong>ra<strong>do</strong>s. Falou Zulema a sua filha Zelin<strong>da</strong> no casamento <strong>do</strong> Sultão<br />

Ali; mas achou nela notável resistência, pedin<strong>do</strong>-lhe com lágrimas que em tal<br />

matéria mais lhe não tratasse, porque nem esse esposo, nem outro algum<br />

havia de aceitar enquanto vivesse. Que sua inclinação era viver livre e não<br />

sujeita à vontade de outro, e que queria ser senhora que man<strong>da</strong>sse e não<br />

cativa que obedecesse. Amava o pai com extremos a Zelin<strong>da</strong> e não quisera<br />

<strong>da</strong>r-lhe desgosto, porque lhe queria muito; mas como se via com repeti<strong>da</strong>s<br />

lembranças, uma e outra vez importuna<strong>do</strong> <strong>do</strong> vali<strong>do</strong> Sinão, a quem to<strong>do</strong>s<br />

agra<strong>da</strong>r desejavam, porque to<strong>do</strong>s dele dependiam, não se deliberava Zulema<br />

no parti<strong>do</strong> que escolhesse, para nem desagra<strong>da</strong>r ao priva<strong>do</strong>, em quem sua<br />

ambiciosa condição fun<strong>da</strong>va suas melhoras, nem molestar a Zelin<strong>da</strong>, em quem<br />

o seu grande amor tinha o centro de seus desvelos. Com esta inquietação de<br />

cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s, molestos para senti<strong>do</strong>s, rigorosos para imagina<strong>do</strong>s, neste labirinto<br />

sem saí<strong>da</strong> em que an<strong>da</strong>vam os desejos com os temores e o amor com a<br />

ambição, queren<strong>do</strong> o mesmo que não desejava e desejan<strong>do</strong> o que menos

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