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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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864 Padre Mateus Ribeiro<br />

suas lágrimas, para consolá-la não mo consentia o excesso de minha <strong>do</strong>r, pela<br />

culpa que lhe punha a desculpava o enganoso <strong>da</strong> promessa e contra a<br />

desculpa arguia o crédito <strong>da</strong> opinião; e assi combati<strong>do</strong> de uma e outra parte,<br />

entre a pie<strong>da</strong>de e o rigor escolhi o sair-me de casa sem responder-lhe, que era<br />

a melhor resposta que em tal tempo lhe podia <strong>da</strong>r um rigor apie<strong>da</strong><strong>do</strong> e uma<br />

clemência rigorosa.<br />

- Oh valha-me Deus (dizia eu, sain<strong>do</strong> de casa com esta pena insofrível)!<br />

Aonde se há-de achar ver<strong>da</strong>de, se na amizade falta to<strong>da</strong> a fideli<strong>da</strong>de, to<strong>da</strong> a<br />

ver<strong>da</strong>de e to<strong>do</strong> o primor? Já se acabaram no mun<strong>do</strong> os Dámon e Pítias, os<br />

Pílades e Orestes, os Castor e Pólux, os Nisos e Euríalos, que celebrou a<br />

antigui<strong>da</strong>de por admiração <strong>do</strong> amor, por prodígios <strong>da</strong> leal<strong>da</strong>de? Que hoje o que<br />

parece amizade é fingimento <strong>da</strong> conveniência própria e não <strong>da</strong> utili<strong>da</strong>de<br />

recíproca. Para que te deu Plutarco 828 nome de santa, ó amizade? Para que te<br />

intitulou Aristóteles 829 alma a <strong>do</strong>us amigos comum? Para que te chamou<br />

Cícero 830 a maior conveniência <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>? Para que te julgou Valério Máximo 831<br />

vínculo mais estreito que o <strong>do</strong> sangue? Se já Ovídio 832 se queixava que eras<br />

interessa<strong>da</strong>, enganosa, simula<strong>da</strong>, fraudulenta.<br />

Com capa de amizade, ingrato Camilo, entraste em minha casa para<br />

roubar-me a honra; e quan<strong>do</strong> minha pobreza não possuía outros bens, nem<br />

lograva mais possessões que a honesti<strong>da</strong>de e recolhimento de Diana, ten<strong>do</strong><br />

meus pais pela maior riqueza o possuírem tal filha tanto para estimar-se por<br />

virtuosa, tu desleal profanaste seu decoro, ofendeste a meus pais no que só<br />

possuíam, que era a honra, e a mi desluziste na opinião, que é a vi<strong>da</strong> política<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> com que os homens se animam para aparecerem diante <strong>do</strong>s outros.<br />

Imaginas, trai<strong>do</strong>r, que por ser mais rico e poderoso viverás seguro, cometen<strong>do</strong><br />

tal injustiça? Não consideras que <strong>do</strong> mais pequeno inimigo não vive segura a<br />

maior grandeza? O signo de câncer, que os astrólogos colocaram nas estrelas,<br />

escreveram dele os poetas que, sain<strong>do</strong> <strong>da</strong> embosca<strong>da</strong> de um lago, mordera a<br />

828 Plut., De amie. & adul.<br />

829 Ar.,apudDiog., Lib. 5.<br />

830 Cie, in Lasl.<br />

831 Vai. Maxim., Lib. 4.<br />

832 Ov., 2. De Pont.

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