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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos- Parte III 517<br />

os homens a molestar-se com os vagares e continuação <strong>da</strong>s músicas e<br />

celebri<strong>da</strong>des quan<strong>do</strong> se dilatam, é além <strong>da</strong> principal razão de serem gostos e<br />

delícias limita<strong>da</strong>s na enti<strong>da</strong>de e em que o desejo não sossega o ser a vi<strong>da</strong><br />

humana combati<strong>da</strong> <strong>da</strong> fome, sono, cansaço, moléstias, cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s que com seus<br />

assaltos a divertem de assistir com descanso seguro às temporais alegrias,<br />

quan<strong>do</strong> as logra. Porém no Céu, como diz o melífluo padre São Bernar<strong>do</strong> 510 ,<br />

sen<strong>do</strong> admirável a sereni<strong>da</strong>de, cabal a segurança e eterna a alegria, não<br />

haven<strong>do</strong> nem pena, nem sentimento, pensão ou cui<strong>da</strong><strong>do</strong> que divirta <strong>do</strong> logro<br />

desta felici<strong>da</strong>de humana, nem pode jamais enfastiar-se o desejo, nem cansar-<br />

se a fruição <strong>da</strong>s eternas delícias.<br />

São as músicas <strong>da</strong> Glória tão diferentes <strong>da</strong>s <strong>da</strong> terra que se conta que<br />

estan<strong>do</strong> o seráfico padre S. Francisco uma noite mui aperta<strong>do</strong> de excessivas<br />

<strong>do</strong>res, veio um anjo a tocar-lhe um instrumento músico, a cujos breves toques<br />

foi tal a suavi<strong>da</strong>de que sentiu que não só as <strong>do</strong>res cessaram logo, mas<br />

confessava o santo que se a harmónica melodia mais durara, a alma eleva<strong>da</strong><br />

nos suaves rasgos de tão subi<strong>da</strong> glória sem dúvi<strong>da</strong> desamparara o corpo, por<br />

não se achar capaz nesta mortal vi<strong>da</strong> de gozar os logros de tal bem. Tal é a<br />

grandeza <strong>da</strong>s delícias e gostos <strong>da</strong> Glória. E como o tempo, que é o movimento<br />

<strong>do</strong> primeiro móvel, tem só computação nas cousas sublunares, e não no que<br />

lhe fica tão superior, <strong>da</strong>qui vem que na duração <strong>da</strong> Glória, sen<strong>do</strong> vi<strong>da</strong><br />

interminável, nem o tempo se sinta, nem pareça tempo. Lá se escreve no<br />

Espelho <strong>do</strong>s Exemplos que um religioso santo e devoto se desvelava em<br />

desejar de entender ca<strong>da</strong> vez que ouvia cantar no coro aquele verso <strong>do</strong> Salmo<br />

oitenta e nove: Mil anos, senhor, à vossa vista são como o dia de ontem já<br />

passa<strong>do</strong>; como podia ser não se sentir nem computar o tempo em anos a<br />

milhares? Quis Deus Senhor nosso mostrar-lhe um emblema deste mistério, e<br />

assim viu diante de seus olhos um pássaro de fermosíssimas penas e cores<br />

tão belas, que por não carecer de tão fermosa e agradável vista, o foi seguin<strong>do</strong><br />

fora <strong>do</strong> convento a um bosque que vizinho estava, onde começou a cantar com<br />

tal suavi<strong>da</strong>de que, eleva<strong>do</strong> o devoto religioso no suave <strong>da</strong> melodia, se<br />

esqueceu de tu<strong>do</strong> o que no mun<strong>do</strong> havia. Deu fim o músico pássaro a seu<br />

canto e voltan<strong>do</strong> o religioso para o mosteiro, baten<strong>do</strong> à portaria que estava<br />

510 S. Bernard.

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