17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte I 159<br />

e riquezas que possuía, e despoja<strong>do</strong> delas e cargos que tivera o man<strong>do</strong>u<br />

desterrar para sempre <strong>da</strong> corte; o qual ven<strong>do</strong>-se tão abati<strong>do</strong> e em extremo<br />

pobre, e não queren<strong>do</strong> que servisse de teatro a suas misérias o que já o fora<br />

<strong>da</strong>s maiores felici<strong>da</strong>des de sua ventura, se partiu para o Egipto, a sua antiga<br />

pátria, e nela começou a exercitar o ofício que de antes tinha, e com ele as<br />

obras de cari<strong>do</strong>sa hospitali<strong>da</strong>de que de antes sen<strong>do</strong> pobre e humilde, como<br />

agora se via, usava.<br />

Desta história se pode inferir o como são disposições <strong>da</strong> Divina<br />

Providência que muitos justos e beneméritos não subam à digni<strong>da</strong>de, nem<br />

possuam riquezas, para que elas os não pervertam, queren<strong>do</strong> que humildes se<br />

assegurem e não que autoriza<strong>do</strong>s se arrisquem; e querer compreender seus<br />

juízos é querer encerrar em breve concha o oceano mais dilata<strong>do</strong>. E toma<br />

Deus Senhor nosso as criaturas por instrumentos e executores <strong>do</strong>s decretos de<br />

sua eterna Providência, como diz o angélico <strong>do</strong>utor S. Tomás 216 ; sen<strong>do</strong> muitas<br />

vezes o negar o que desejamos favor grande que nos fez (como ensina o<br />

grande P. S. Agostinho), para nos conceder o que nós mais houvéramos de<br />

pedir e desejar se sua previdência manifesta nos fora; sen<strong>do</strong> (como diz S.<br />

Jerónimo 217 ) benefícios os que talvez imaginamos castigos ou disfavores.<br />

A quantos fora melhor não haverem subi<strong>do</strong> a digni<strong>da</strong>des grandes de que<br />

ao depois miseravelmente caíram! Que aproveitou a Sérvio Túlio, VI rei de<br />

Roma, alcançar dela o ceptro, sen<strong>do</strong> tão humilde por seu nascimento, senão o<br />

ser cruelmente morto e por Roma arrasta<strong>do</strong> com grande vitupério? Que<br />

granjeou Élio Pertinaz de subir ao império senão o ser aleivosamente morto de<br />

seus próprios sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s que lhe faziam guar<strong>da</strong>? E quanto melhor lhe fora viver<br />

em Roma pobre e quieto, como vivia, que morrer violentamente empera<strong>do</strong>r,<br />

como receava? Que melhora<strong>da</strong> sorte adquiriu imperial digni<strong>da</strong>de a Maximino, a<br />

quem de pastor de ga<strong>do</strong> subiu a fortuna ao império <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, para ser ao<br />

depois em Aquileia morto de seus mesmos sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s, e sua cabeça corta<strong>da</strong> e<br />

posta em Roma à vista de to<strong>do</strong>s por ludíbrio? Que avanteja<strong>da</strong> ventura teve o<br />

romano Átalo em ser constituí<strong>do</strong> empera<strong>do</strong>r romano por Ataulfo, rei <strong>do</strong>s go<strong>do</strong>s,<br />

em ódio de Honório; pois chegou depois a tanta miséria que sen<strong>do</strong> em<br />

216 D. Thomas, Contra gent.<br />

217 D. Hieron., Super Ezech.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!