17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alívio de tristes e consolação de queixosos- Parte II 229<br />

Nápoles, se bem não ricos, porque por vários sucessos <strong>da</strong> fortuna, homizios,<br />

ban<strong>do</strong>s e inquietações em que foram culpa<strong>do</strong>s com outros de sua família, tinha<br />

gasta<strong>do</strong> e perdi<strong>do</strong> a maior parte <strong>do</strong>s bens que possuíam. Tinha Alexandre uma<br />

irmã, moça de gentil presença e raro aviso que se chamava Anastácia, que<br />

com seus pais e irmão a maior parte <strong>do</strong> tempo viviam fora de Nápoles retira<strong>do</strong>s<br />

em uma quinta, porque o limita<strong>do</strong> <strong>da</strong>s ren<strong>da</strong>s lhes não permitia viverem no<br />

cortejo e custoso <strong>da</strong> corte com a decência que se podia esperar <strong>do</strong> ilustre de<br />

seu sangue.<br />

Grande pensão é a de um pobre bem nasci<strong>do</strong>, que quan<strong>do</strong> mais luzir<br />

deseja, lhe serve a pobreza de eclipse que o esconde! O que nasceu pobre<br />

não faz nele abalo o carecer <strong>da</strong>s luzes, que como desde o berço lhe serviu a<br />

pobreza de sombra, pouco sente o não brilhar quem sempre careceu <strong>do</strong>s<br />

motivos de luzir. Porém o que cria<strong>do</strong> com grandeza se considera reduzi<strong>do</strong> a<br />

perder os aplausos com que o tinha lisonjea<strong>do</strong> a ventura, ven<strong>do</strong>-se esqueci<strong>do</strong><br />

de quem o cortejava e menos respeita<strong>do</strong> <strong>do</strong>s que de antes com venerações o<br />

recebiam, não poden<strong>do</strong> deitar galas quan<strong>do</strong> os festejos as pedem, nem assistir<br />

nos públicos com o decoro que à sua família se devia, não tem mais remédio<br />

que apelar para o retiro <strong>do</strong>s campos, aonde a fortuna oculta o que nas ci<strong>da</strong>des<br />

manifesta.<br />

Retira<strong>do</strong> pois Alexandre com seus pais e irmã a esta quinta, que distava<br />

duas léguas <strong>da</strong> nossa, aonde eu muitas vezes lhe assistia, sucedeu que<br />

an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> com ele à caça, apartan<strong>do</strong>-se comigo ao solitário de um bosque que<br />

entre as eminências de uns montes se formava, a horas em que já o sol ia<br />

recolhen<strong>do</strong> as <strong>do</strong>ura<strong>da</strong>s redes de seus brilhantes resplan<strong>do</strong>res, me disse desta<br />

sorte:<br />

- Se, como disse Marco Túlio, é atributo inseparável <strong>da</strong> amizade<br />

ver<strong>da</strong>deira, na próspera e adversa fortuna, ser inseparável companheira, o que<br />

já tinha dito Aristóteles e é comum prolóquio <strong>da</strong> antigui<strong>da</strong>de; bem sei eu, amigo<br />

Felisberto, que sentireis, como quem o é tanto, meus pesares e me<br />

acompanhareis na vingança que tomar determino de minha honra ofendi<strong>da</strong>. E<br />

porque o tempo é breve para relatar mais extensamente a causa, a resumirei<br />

com dizer que Dionísio Montal<strong>do</strong>, aquele rico genovês que desterra<strong>do</strong> de<br />

Génova pelo ban<strong>do</strong> contrário veio viver em Nápoles com tanta ostentação,<br />

deve a honra com palavra de esposo a minha irmã Anastácia, o que ela

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!