17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

144 Padre Mateus Ribeiro<br />

frios e sofren<strong>do</strong> calmas, já navegan<strong>do</strong> o mar, já peregrinan<strong>do</strong> a terra, viverem<br />

sempre pobres? Donde nacerá que haja tantos virtuosos abati<strong>do</strong>s e tantos<br />

viciosos entroniza<strong>do</strong>s? Tantos <strong>do</strong>utos desestima<strong>do</strong>s e tantos ignorantes<br />

favoreci<strong>do</strong>s? Tantos sábios persegui<strong>do</strong>s e tantos nécios ampara<strong>do</strong>s? Que o<br />

que merece alcance, que o que tem talento se honre e o discreto se prefira não<br />

era causa de admiração, antes divi<strong>da</strong> <strong>da</strong> razão e justiça; porém que ao<br />

contrário o inábil alcance, o incapaz possua, o nécio se galar<strong>do</strong>e, o ignorante<br />

se autorize, o inútil se ampare e favoreça, que discurso não suspende, que<br />

entendimento não perturba? E assim me ocorre muitas vezes o imaginar se<br />

serão porventura algumas ocultas influências, já favoráveis, já adversas, que a<br />

seus nacimentos patrocinem ou contrariem?<br />

- Conforme a isso (disse então o Ermitão) <strong>da</strong>is, senhor, a entender que<br />

as estrelas e planetas podem ser causa de nossas felici<strong>da</strong>des ou desditas?<br />

- Não o afirmo por cousa certa (disse o Peregrino), porém muitas vezes<br />

me veio ao pensamento imaginar se porventura de semelhante causa<br />

procederiam tão vários efeitos, não porém que nisso me resolvesse; e pois em<br />

vós, senhor, assim o discurso de larga i<strong>da</strong>de, como juntamente a erudição que<br />

em vossa presença descubro, me estão dizen<strong>do</strong> quanto nesta matéria podeis<br />

instruir-me, vos peço me tireis desta suspensão, dizen<strong>do</strong>-me o parecer <strong>do</strong> que<br />

nisto sentis, para que eu saia <strong>da</strong>s dúvi<strong>da</strong>s em que o discurso tantas vezes me<br />

tem enlea<strong>do</strong>.<br />

- Estimarei acertar a satisfazer-vos (disse o Ermitão), ain<strong>da</strong> que vossa<br />

discrição e o conhecimento que mostrais ter assim <strong>da</strong>s ciências, como <strong>da</strong>s<br />

histórias <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, como vossa pátria tem manifesta<strong>do</strong> em outras dificul<strong>da</strong>des<br />

maiores, podiam <strong>da</strong>r luz à suspensão que mostrais nesta matéria. E assim por<br />

obedecer-vos e proceder com maior clareza, toman<strong>do</strong> esta proposta mais de<br />

seus princípios, pressuporei que:<br />

Os antigos erra<strong>da</strong>mente pressupunham haver Fa<strong>do</strong>, erro que se atribui à<br />

seita <strong>do</strong>s estóicos, os quais afirmavam ser o fa<strong>do</strong> uma fatal necessi<strong>da</strong>de<br />

causa<strong>da</strong> <strong>da</strong>s influências celestes com que no mun<strong>do</strong> necessariamente<br />

sucediam to<strong>da</strong>s as cousas: necessi<strong>da</strong>de que alguns <strong>do</strong>s astrólogos judiciários<br />

antigamente seguiam, como refere o grande padre Santo Agostinho 196 . A esta<br />

Div. Aug., Lib. 5. De Civil Dei. & lib. 4. Confess.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!