17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

776 Padre Mateus Ribeiro<br />

Cap. VI.<br />

Do que sucedeu a Lisar<strong>do</strong> sain<strong>do</strong> de Bolonha para vir para Cesena<br />

Suspensos se partiram Feliciano e Antíoco de casa de Florisela com uns<br />

longes de esperanças e com uns pertos de desenganos, nem de to<strong>do</strong><br />

desconfia<strong>do</strong>s, nem de to<strong>do</strong> satisfeitos. Por uma parte animava a Feliciano para<br />

conseguir o casamento a modéstia com que se ouve com minha irmã até ser a<br />

minha mãe restituí<strong>da</strong>, de que Florisela era abona<strong>da</strong> testemunha. É a modéstia<br />

guar<strong>da</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, como lhe chamou Platão 674 ; virtude que modera o impetuoso<br />

<strong>do</strong> desejo, como a definiu Aristóteles 675 ; espelho <strong>da</strong> razão, lhe chamou<br />

Cícero 676 , em que se vê o justo e se reprova o odioso; carta de seguro <strong>da</strong> paz,<br />

concórdia <strong>da</strong> razão com o apetite, luz que desvia <strong>do</strong>s perigos, regra sem a<br />

qual, como diz Valério Máximo 677 , nem o preclaro se estima, nem a<br />

generosi<strong>da</strong>de se mostra; vitória com que triunfa o valor <strong>do</strong>s incentivos <strong>do</strong>s<br />

afectos, moderação que ensina a seguir a magnanimi<strong>da</strong>de e não o temor <strong>da</strong><br />

punição, como Séneca 678 escreve. Assi não carecia de louvor o romper quem<br />

amava pela ocasião e pelo desejo por não faltar ao heróico <strong>do</strong> generoso.<br />

Por outra parte, havia si<strong>do</strong> tão odioso o atrevimento <strong>do</strong> rapto de<br />

Florisela, quan<strong>do</strong> o lustroso <strong>da</strong> honra não só nos sujeitos ilustres <strong>da</strong>s obras<br />

insolentes se mancha, mas ain<strong>da</strong> <strong>do</strong>s pensamentos se ofende, queren<strong>do</strong> (se<br />

possível lhe fora) pôr leis à própria vontade para que não ame e proibições ao<br />

entendimento para que não pense o que presume ser abatimento, desejan<strong>do</strong><br />

ter jurisdição nos interiores para puni-los, se pudera certificar-se que deles<br />

estava a fi<strong>da</strong>lguia agrava<strong>da</strong>. É esta pela maior parte tão escrupulosa <strong>do</strong>s<br />

desaires <strong>da</strong> estimação que parece fazer-se quasi incapaz de ser ofendi<strong>da</strong>,<br />

quan<strong>do</strong> com a ofensa sempre, como disse Demóstenes 679 , se pode temer a<br />

maior vingança e está propínquo o mais certo perigo. Um <strong>do</strong>s motivos que se<br />

674 Plat., in Char.<br />

675 Arist., De virt. & vit. divis.<br />

676 Cicer., De fin.<br />

677 Val. Maxim., Lib. 3.<br />

678 Sen., Ep. 5.<br />

679 Dem., in Ep.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!