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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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206 Padre Mateus Ribeiro<br />

seu agravo ignorou. Desculpa de um mari<strong>do</strong> honra<strong>do</strong> são tais fugi<strong>da</strong>s, créditos<br />

de seu valor são semelhantes temores. E assim na fugi<strong>da</strong> de uma mulher<br />

desleal assegura seu esposo a vi<strong>da</strong> e juntamente a fama. Nem tem o vulgo<br />

ignorante que culpar o não haver evita<strong>do</strong> o que não foi possível ser previsto,<br />

nem lhe pode imputar a culpa o não haver vinga<strong>do</strong> o agravo a quem o<br />

assegurar-se <strong>da</strong> vingança fez conheci<strong>do</strong>. Nem aprovo, senhor, o imaginardes<br />

que mais se atreva o vulgo a manchar a fama <strong>do</strong>s pequenos que <strong>do</strong>s grandes e<br />

poderosos; antes pelo contrário, os infortúnios <strong>do</strong>s grandes celebram as<br />

histórias antigas, as desgraças <strong>do</strong>s pequenos apenas sua pátria as sabe. Os<br />

obeliscos e torres grandes são alvo de to<strong>do</strong>s os olhos, os montes levanta<strong>do</strong>s<br />

de muito longe se divisam; porém os <strong>do</strong>micílios humildes edifica<strong>do</strong>s nos vales,<br />

ain<strong>da</strong> quan<strong>do</strong> estão vizinhos, apenas se mostram. Os eclipses <strong>do</strong> sol to<strong>do</strong>s o<br />

contemplam, que, como disse Plutarco 270 , não podem encobrir-se defeitos ou<br />

malícia em poder grande; se alguns nas estrelas há, poucos os conhecem: as<br />

eminências maiores são objectos de to<strong>da</strong>s as notas e defeitos; não puderam as<br />

púrpuras isentar-se <strong>da</strong> fama que historiou seus descui<strong>do</strong>s, que descreveu suas<br />

vi<strong>da</strong>s; livraram-se porém deste perigo os sujeitos humildes, a quem não chegou<br />

a manchar quem se atreveu a pôr labéu nos monarcas e príncipes mais<br />

soberanos. Em vós não tem que censurar o vulgo, pois não sois culpa<strong>do</strong>, nem<br />

que perpetuar a fama, pois não sois monarca. Crimes de outrem não podem<br />

des<strong>do</strong>urar vosso nome: alheias culpas como hão-de dislustrar vossos<br />

merecimentos? Que se ain<strong>da</strong> a honra que por culpa se perde, por<br />

merecimentos depois se restaura, quan<strong>do</strong> a vossa se eclipsasse por desgraça,<br />

como seriam bastantes vossos méritos a <strong>da</strong>r-lhe novo lustre! Ser honra<strong>do</strong> com<br />

proezas alheias foi ventura sem culpa, por culpas de outrem ser ofendi<strong>do</strong> não é<br />

delito. Os vícios e desaforos não infamam a quem os ignora. Esta é opinião <strong>do</strong>s<br />

sábios 271 , <strong>do</strong>s <strong>do</strong>utos e discretos; se o vulgo outra cousa sente é erro grande e<br />

manifesta ignorância que nenhum sábio aprova nem discreto admite.<br />

- Consola<strong>do</strong> em parte (disse o Peregrino) me deixam vossas razões<br />

porque sua prudência é poderosa para persuadir e eficaz para aliviar mal tanto<br />

sem alívio, como o meu parece; porém quan<strong>do</strong> considero ser <strong>da</strong> pren<strong>da</strong> de<br />

Plut., De Sera. Numin. vindicta.<br />

Quintil., Declam. 9.

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