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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte IV 723<br />

privança aceita mal que outro a iguale. Consolai-vos, senhor, que não fostes<br />

vós só o puni<strong>do</strong>, pois foram tantos os condena<strong>do</strong>s. Eles levaram o pior e vós o<br />

menos; e suposto que não fosse igual a causa, pudera ser igual no infortúnio a<br />

pena. À vista <strong>do</strong>s que na batalha ficam mortos tem alívio os prisioneiros e os<br />

feri<strong>do</strong>s; à vista <strong>do</strong>s submergi<strong>do</strong>s nas on<strong>da</strong>s admite consolação o naufragante<br />

derrota<strong>do</strong>. Pois se fora possível <strong>da</strong>r-se escolha, os mortos se julgariam<br />

venturosos com o mesmo que os outros se avaliavam desgraça<strong>do</strong>s. A troco de<br />

salvar a vi<strong>da</strong>, se arroja ao mar em uma hora tu<strong>do</strong> o que a ambição desvela<strong>da</strong><br />

an<strong>do</strong>u adquirin<strong>do</strong> em muitos anos, e não repara o navegante em ficar pobre,<br />

contanto que fique vivo. E a razão será porque considera que com a vi<strong>da</strong> pode<br />

de novo restaurar-se o que com a morte chega de to<strong>do</strong> a perder-se. Assim vós,<br />

senhor, podeis restaurar com a vi<strong>da</strong> o que sem ela não pudéreis melhorar <strong>da</strong><br />

ventura. Estais hoje, senhor, de vossa liber<strong>da</strong>de, pren<strong>da</strong> de grande valor, como<br />

disse Diógenes 607 ; estais na primavera <strong>do</strong>s anos e não no decrépito <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>,<br />

quan<strong>do</strong> a velhice com o inerte <strong>da</strong>s forças vos dissuadisse a prosseguirdes o<br />

heróico <strong>da</strong> empresa a que podíeis aspirar como entendi<strong>do</strong>. Suspendei as<br />

lágrimas de magoa<strong>do</strong>: que porventura algum dia, quan<strong>do</strong> vos virdes em<br />

diferente fortuna, servirão de aumentar-vos alegrias com as lembranças destas<br />

que hoje chorais e sentis calami<strong>da</strong>des, comparan<strong>do</strong> o aflito em que vos vistes<br />

com o esta<strong>do</strong> diferente em que vos conhecerdes.<br />

Atento ouviu Polinar<strong>do</strong> os alívios que Felisberto lhe deu, de que lhe<br />

rendeu as graças mais consola<strong>do</strong> em sua pena e de novo lhe pediu conselho<br />

no caminho que seguiria. Adiantou-se à resposta o cativo Hortênsio, dizen<strong>do</strong>:<br />

- Esse, senhor Polinar<strong>do</strong>, com licença destes senhores, direi eu (a) , por<br />

me parecer na presente ocasião o mais acerta<strong>do</strong>. E é que mu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> juntamente<br />

comigo de traje, venhais em minha companhia para Taranto, aonde em minha<br />

casa sereis hospe<strong>da</strong><strong>do</strong> e de mim em tu<strong>do</strong> favoreci<strong>do</strong>, pois sen<strong>do</strong> o senhorio <strong>do</strong><br />

reino de Nápoles, estais <strong>da</strong>s ordens de Perúsia seguro e em minha companhia<br />

livre de serdes de vossos contrários perturba<strong>do</strong>. Daí escrevereis a vossa mãe e<br />

cunha<strong>do</strong> para vos certificardes <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de vossos negócios, e com seu aviso<br />

resolvereis o que mais conveniente vos for. Eu espero hoje a meus cria<strong>do</strong>s<br />

Diog., apud Laert, Lib.7.<br />

Na edição de 1734 lê-se: Esse, senhores, direi eu.

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